Dá Pedal

Toda e qualquer pedalada tem um começo e um destino. Mas sempre tem um desafio. Pode ser uma montanha, uma serra, a chegada triunfante numa cachoeira. Ir de encontro ao mar. Portanto existem múltiplas razões para irmos a algum lugar, podendo até estar misturados alguns ingredientes, como por exemplo, turismo, prática esportiva, contemplação de paisagens, história, culto a alguma alusão religiosa, etc.
Mas sempre o prazer de pedalar. E com a sensação deliciosa de nos locomovermos num veículo que não degrada o meio ambiente, não polui e nos deixa com uma ótima qualidade de vida.
A marca, a idéia do nome e do próprio blog foi de um grande amigo, o publicitário Sergio Quadros. Como já sou quase sexagenário, meu apelido é "Velho" e o nome "Dá pedal" faz alusão à uma expressão muito usada insinuando que alguma coisa pode dar certo. A arte da marca, que achei sensacional, foi me dado de presente por ele, e tem como moldura uma coroa da bicicleta, mas deixando passar também a mensagem do coroa que está na foto, permitindo a todos se sentirem capazes de pedalar.
Ou seja, " Dá Pedal !!"

domingo, 30 de janeiro de 2011

As Serras do Estado do Rio de Janeiro (II)






Mangaratiba – Rio Claro

Uma ótima opção para quem busca um local diferente para pedalar é a subida da Serra do Piloto, através da estrada RJ-149, que liga Mangaratiba a Rio Claro. Esta estrada, de pouquíssimo movimento e pouco conhecida dos cariocas, começa no posto de gasolina ALE, às margens da Rio Santos, na entrada do município de Mangaratiba.
Após cerca de 3 km em asfalto, o piso fica de terra, mas sem muitas irregularidades, permitindo seu uso por qualquer veículo, que como disse, são pouquíssimos. Logo começamos a subir a serra, mas apesar dos quase 14 km de aclive ininterrupto, a pedalada é deliciosa, face ao pequeno grau de inclinação. Assim, com a subida bem lançante, a quilometragem avança com rapidez.
No km 7, já a 257 m de altitude, temos uma pausa quase que obrigatória, já que numa falha da vegetação, temos uma vista deslumbrante do vale por onde subimos, tendo ao fundo a cidade de Mangaratiba e a Baía da Ilha Grande. Um pouco mais acima, no km 8 e a 327 m de altitude, uma bica natural de água bem geladinha para dar uns goles, molhar a cabeça e fazer um “refill” da caramanhola. No km 9,7 com 367 m de altitude, encontramos uma pequena, porém sensacional cachoeira, mas nessa lugar a parada será na volta para um banho reparador, com um luxo de uma posição sentada natural, bem embaixo da queda d'água.
Mais adiante, no km 13,2 (420 m de altitude), chegamos no distrito de Serra do Piloto, um bairro afastado da civilização onde parece que o tempo parou. Há bares, mercadinhos, etc. Portanto, quem quiser água gelada, coca-cola, gatorade ou um alimento, esse é o lugar de reabastecimento. Há pousadas, cavalos para aluguel, ou seja um desses lugares calmíssimos da serra. E por isso ainda levei uma reprimenda da vendedora do mercado, onde fui comprar água, quando demonstrei preocupação com minha bicicleta que ficara lá fora.
não se preocupe moço, aqui não tem isso não....não tem mesmo!!!
Bom, como diz o ditado “gato que já levou tijolada não dorme em olaria”, preferi não perder minha magrela de vista.
Dentro dessa localidade, o piso é asfalto, que volta à terra assim que a deixamos. E continuamos nossa leve subida e aproximadamente no km 16 encontramos muitas máquinas, já que a estrada está sendo asfaltada. A altitude máxima é de 561 metros e num asfalto lisinho, com leves subidas e descidas, chega-se a Rio Claro a 432 metros de altitude.
Uma ótima opção é um delicioso banho de cachoeira. Aproximadamente 2 km após Serra do Piloto, pegar uma saída a direita e andar mais 3,5 km até a queda d'água.
Creio que quando o asfalto cobrir toda a estrada, infelizmente perderemos uma gostosa pedalada de MTB. Em compensação, será um paraíso para treinar subida, levando nossa speed para um banho de cachoeira.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Resolução do Contran sobre transporte de bicicletas






O Departamento Nacional de Trânsito anunciou a nova resolução que parece melhorar muito a vida de quem leva a bicicleta no teto. Uma delas é a oficialização da "segunda placa" na traseira, com algumas condições.

Clique aqui para você ter a nova resolução.
O Contran publicou uma portaria sobre transporte de cargas do lado externo dos veículos, com um capítulo especial sobre o transporte de bicicletas na traseira ou sobre o teto dos automóveis e caminhonetes, que entra em vigor em 90 dias.
A dica é que todos os ciclistas imprimem este edital e deixem guardado no porta luvas do seu carro caso venha ter algum problema.
www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/RESOLUCAO_CONTRAN_349_10.pdf

RESOLUÇÃO N. 349 DE 17 DE MAIO DE 2010
Dispõe sobre o transporte eventual de cargas ou de
bicicletas nos veículos classificados nas espécies
automóvel, caminhonete, camioneta e utilitário.
O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO CONTRAN, usando da competência
que lhe confere o inciso I do artigo 12 da Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997, que institui o
Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e conforme o Decreto nº 4711, de 29 de maio de 2003, que
dispõe sobre a coordenação do Sistema Nacional de Trânsito,
Considerando as disposições sobre o transporte de cargas nos veículos contemplados
por esta Resolução, contidas na Convenção de Viena sobre o Trânsito Viário, promulgada pelo
Decreto nº 86714, de 10 de dezembro de 1981;
Considerando o disposto no artigo 109 da Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997,
que institui o Código de Trânsito Brasileiro - CTB;
Considerando a necessidade de disciplinar o transporte eventual de cargas em
automóveis, caminhonetes e utilitários de modo a garantir a segurança do veículo e trânsito;
Considerando a conveniência de atualizar as normas que tratam do transporte de
bicicletas nos veículos particulares.
Considerando as vantagens proporcionadas pelo uso da bicicleta ao meio ambiente, à
mobilidade e à economia de combustível;
RESOLVE:
Capitulo I
Disposições Gerais
Art. 1º Estabelecer critérios para o transporte eventual de cargas e de bicicletas nos
veículos classificados na espécie automóvel, caminhonete, camioneta e utilitário.
Art. 2º O transporte de cargas e de bicicletas deve respeitar o peso máximo
especificado para o veículo.
Art. 3º - A carga ou a bicicleta deverá estar acondicionada e afixada de modo que:
I- não coloque em perigo as pessoas nem cause danos a propriedades públicas ou
privadas, e em especial, não se arraste pela via nem caia sobre esta;
II- não atrapalhe a visibilidade a frente do condutor nem comprometa a estabilidade
ou condução do veículo;
III- não provoque ruído nem poeira;
IV- não oculte as luzes, incluídas as luzes de freio e os indicadores de direção e os
dispositivos refletores; ressalvada, entretanto, a ocultação da lanterna de freio elevada (categoria S3);
V- não exceda a largura máxima do veículo;
VI- não ultrapasse as dimensões autorizadas para veículos estabelecidas na Resolução
CONTRAN nº 210, de 13 de novembro de 2006, que estabelece os limites de pesos e dimensões para
veículos que transitam por vias terrestres e dá outras providências, ou Resolução posterior que venha
sucedê-la.
VII- todos os acessórios, tais como cabos, correntes, lonas, grades ou redes que
sirvam para acondicionar, proteger e fixar a carga deverão estar devidamente ancorados e atender
aos requisitos desta Resolução.
VIII- não se sobressaiam ou se projetem além do veículo pela frente.
Art. 4º Será obrigatório o uso de segunda placa traseira de identificação nos veículos na
hipótese do transporte eventual de carga ou de bicicleta resultar no encobrimento, total ou parcial, da
placa traseira.
§1° A segunda placa de identificação será aposta em local visível, ao lado direito da traseira
do veículo, podendo ser instalada no pára-choque ou na carroceria, admitida a utilização de suportes
adaptadores.
§2° A segunda placa de identificação será lacrada na parte estrutural do veículo em que estiver
instalada (pára-choque ou carroceria).
Capítulo II
Regras aplicáveis ao transporte eventual de cargas
Art. 5º Permite-se o transporte de cargas acondicionadas em bagageiros ou presas a
suportes apropriados devidamente afixados na parte superior externa da carroçaria.
§1° O fabricante do bagageiro ou do suporte deve informar as condições de fixação
da carga na parte superior externa da carroçaria e sua fixação deve respeitar as condições e restrições
estabelecidas pelo fabricante do veículo
§2° As cargas, já considerada a altura do bagageiro ou do suporte, deverá ter altura
máxima de cinqüenta centímetros e suas dimensões, não devem ultrapassar o comprimento da
carroçaria e a largura da parte superior da carroçaria. (figura 1)
Y≤ 50 cm, onde Y = altura máxima;
X ≤ Z, onde Z = comprimento da carroçaria e X = comprimento da carga.
Figura 1
Art. 6º Nos veículos de que trata esta Resolução, será admitido o transporte eventual
de carga indivisível, respeitados os seguintes preceitos:
I- As cargas que sobressaiam ou se projetem além do veículo para trás, deverão estar
bem visíveis e sinalizadas. No período noturno, esta sinalização deverá ser feita por meio de uma luz
vermelha e um dispositivo refletor de cor vermelha.
II- O balanço traseiro não deve exceder 60% do valor da distância entre os dois eixos
do veículo. (figura 2)
B ≤ 0,6 x A, onde B = Balanço traseiro e A = distância entre os dois eixos.
Figura 2
Art. 7º Será admitida a circulação do veículo com compartimento de carga aberto
apenas durante o transporte de carga indivisível que ultrapasse o comprimento da caçamba ou do
compartimento de carga.
Capítulo III
Regras aplicáveis ao transporte de bicicletas na parte externa dos veículos
Art. 8º A bicicleta poderá ser transportada na parte posterior externa ou sobre o teto,
desde que fixada em dispositivo apropriado, móvel ou fixo, aplicado diretamente ao veículo ou
acoplado ao gancho de reboque.
§ 1º O transporte de bicicletas na caçamba de caminhonetes deverá respeitar o
disposto no Capítulo II desta Resolução.
§ 2º Na hipótese da bicicleta ser transportada sobre o teto não se aplica a altura
especificada no parágrafo 2º do Artigo 5°.
Art. 9º O dispositivo para transporte de bicicletas para aplicação na parte externa dos
veículos deverá ser fornecido com instruções precisas sobre:
I- Forma de instalação, permanente ou temporária, do dispositivo no veículo,
II- Modo de fixação da bicicleta ao dispositivo de transporte;
III- Quantidade máxima de bicicletas transportados, com segurança;
IV- Cuidados de segurança durante o transporte de forma a preservar a segurança do
trânsito, do veículo, dos passageiros e de terceiros.
Capítulo IV
Disposições Finais
Art. 10 Para efeito desta Resolução, a bicicleta é considerada como carga indivisível.
Art. 11 O não atendimento ao disposto nesta Resolução acarretará na aplicação das
penalidades previstas nos artigos 230, IV, 231, II, IV e V e 248 do CTB, conforme infração a ser
apurada.
Art. 12 Esta Resolução entra em vigor noventa dias após a data de sua publicação,
ficam revogadas as Resoluções nº 577/81 e 549/79 e demais disposições em contrário.
Alfredo Peres da Silva
Presidente
Rui César da Silveira Barbosa
Ministério da Defesa
Esmeraldo Malheiros Santos
Ministério da Educação
Rudolf de Noronha
Ministério do Meio Ambiente
Elcione Diniz Macedo
Ministério das Cidades

domingo, 23 de janeiro de 2011

Travessia dos Andes 2011






Em meados de 2009, eu e alguns amigos ciclistas, todos de Nova Friburgo, combinamos de fazer, de bicicleta, a travessia da Cordilheira dos Andes, pela Estrada Panamericana. Começamos a estudar o trajeto através de imagens obtidas pela internet, analisando pormenores como altitude, distância entre os vilarejos no caminho, possibilidade de apoio mecânico, comunicação, etc.
O grupo inicial era formado por mim, Orlando Mielli Jr e Marcos Tulio Marques (dentistas) e Pedro Benevides (educador físico) e, depois de um consenso quanto ao apoio, resolvemos convidar um outro amigo (Marcos André) para ser nosso “motorista”, pois planejávamos alugar uma pick-up, que comportasse as bicicletas e toda nossa bagagem.
Ainda nessa época, fizemos contatos com a Revista Pedal, que se interessou em posteriormente publicar o relato e fotos da travessia. E como estímulo, mandou confeccionar uma camisa de ciclismo especial para o evento.
Estava tudo acertado para o inicio de 2010, quando uma semana antes da viagem, ocorreu o terremoto no Chile, adiando nossa aventura. E quando as coisas naquele país começaram a voltar ao normal, o verão já não era mais a estação climática, o que praticamente impedia que se realizasse naquela época.
Marcamos então para inicio de janeiro de 2011. Porém, o Marcos Tulio, numa peladinha de final de semana com familiares, rompeu o tendão de aquiles no meio do ano e como ele realmente desejava conhecer de perto a travessia e não daria tempo de recuperação total até janeiro, que o permitisse voltar aos treinamentos para a dura jornada, sem contar que já tinha pago toda a viagem, resolveu ser, ele mesmo, ser o nosso “motorista”. Com isso o Marcos André foi “desconvidado” e entrou em seu lugar outro ciclista, uma mistura de mineiro de Uberrrrlândia e Nova Friburgo, Rodrigo Zamunaro.
Saímos do Rio de Janeiro no dia 8 de janeiro pernoitamos em Santigo do Chile. Já com a pick-up alugada, partimos para Mendoza com as bicicletas já montadas e nossas roupas. Como ficaríamos no mesmo hotel no final da viagem, antes do nosso retorno ao Rio de Janeiro, conseguimos deixar todas as malas-bikes, guardadas o que aliviou tremendamente o volume da bagagem. Chegamos em Mendoza no mesmo, após claro, no deliciarmos com a paisagem dos Andes, que iríamos percorrer pedalando nos dias seguintes.
1° DIA DE PEDAL
Na programação sairíamos pedalando de Mendoza. Porém, observamos que a Ruta 5, uma autoestrada que liga Mendoza ao sul da Argentina, tem um movimento bastante intenso e de veículos pesados. Além disso, não tem acostamento pavimentado em quase todo o percurso (é de brita) o que nos faria disputar com os veículos a rodovia, deixando a pedalada perigosa e sem qualquer prazer. Por isso, começamos em Lujan del Cuyo (altitude 951 m), quase no início da Ruta 7, a Rodovia Panamericana, que atravessa os Andes em direção ao Chile.
Cabe lembrar que esta rodovia não tem acostamento e possui um movimento de carretas grandes de escoam a produção do sul do Brasil e da Argentina, rumo ao Chile e ao porto de Valparaíso, no Oceano Pacífico, além de muitos carros e motos. No entanto, durante todo o trajeto, os veículos sempre ao ver ciclistas, via de regra vão lá na contramão, como se estivéssemos ocupando uma faixa normal de rolamento, fazendo com que não contabilizamos um susto sequer. E tivemos muitos e longos períodos sem qualquer circulação de veículos, fazendo com que o som da nossa corrente e dos nosso pneus rolando no asfalto, fossem os únicos a se juntar ao vento e ao nosso movimento respiratório.
Nossa primeira parada era na localidade de Villa Potrerillos, um pequeno vilarejo a 1400 metros de altura, às margens de um lago azul turqueza, reprezado artificialmente por uma barragem o Rio Mendoza, que aliás, seria nosso companheiro durante quase toda a travessia. O hotel que tínhamos reservado era o Pueblo Del Rio, 10 km adiante, às margens do Rio Mendoza, formado por um conjunto delicioso de charmosos chalés.
A pedalada no início era quase plana, passando por inúmeras vinícolas às margens da rodovia e sempre com a Cordilheira dos Andes na nossa frente, a qual íamos conquistando lentamente, pedalada a pedalada. E a medida que íamos subindo a paisagem ia se modificando, acabando as parreiras que dava lugar à certa aridez das montanhas. No entanto, o visual era cada vez mais cativante e a todo momento, parávamos para fotos, pois a paisagem dos Andes é algo muito impressionante e nos transforma e grãos pequeninos.
Desde a fase de preparação, nosso plano era fazer a pedalada mais contemplativa possível, dosando mais o ritmo e curtindo mais o visual. E mesmo que quiséssemos apertar o ritmo, a paisagem não nos deixaria. Portanto, as paradas para fotos eram frequentes, que se somaram às centenas de fotos tiradas pelo nosso “motorista” Marcos Tulio, incansável em todo o percurso.
Mais uma vez eu era o mais velho da turma ,57 anos contra os 47 do Orlando, 35 do Rodrigo e 23 do Pedro (sem contar no ciclista-motorista Marcos com 43). Tal fato não me permitiria acompanhá-los se apertassem o ritmo, mas pedalamos algum tempo juntos, quando os dois mais jovens “escapavam”. O Orlando sempre foi meu “gregário”, pois ficamos juntos o tempo todo e sempre que dava, eu pagava um pouco de carona no seu vácuo. Mas posso afirmar que não sentimos os quase 700 metros de desnível desde Luyan del Cuyo até Potrerillos.
Resumo do primeiro dia: total pedalado – 56,46 km
total de subidas (acumulada) – 1092 m
total de descidas (acumulada) – 575 m
total pedalando – 2h 54 min – média 19 km/h.
Altitude local – 1454 m
Cabe lembrar, como se vê no resumo, que temos durante todo o percurso, mesmo na parte mais alta da montanha, algumas descidas, que nos proporcionam um descanso às pernas.

2° DIA DE PEDAL

Saímos do Hotel Pueblo Del Rio e continuamos nossa programação, cujo destino do segundo dia era a cidade de Uspallata. O percurso é muito mais bonito do que no dia anterior, a temperatura ia ficando cada vez mais amena, embora a ausência total de nuvens, nos deixava à mercê do sol e radiação UV, que aliás foi constante durante toda a viagem. Se por um lado a paisagem ficava mais bonita devido ao céu extremamente azul em contraste com as montanhas, algumas ainda encobertas pela neve, por outro lado os cuidados com a pele não poderiam ser negligenciados. Dessa forma, generosas camadas de filtro solar eram aplicadas.
A pedalada desse dia foi muito prazerosa e mais uma vez não sentimos que estávamos cada vez mais altos. A cidade de Uspallata tem uma infraestrutura própria, como qualquer cidade turística, embora seja pequena. Muitos hotéis, mercados, lojas, postos de gasolina, restaurantes, etc. Muito voltada ao turismo, pois se durante o inverno é um centro de esportes na neve, no restante do ano, se dedica ao rafting, montanhismo, andinismo, mountain-bike, etc. Apesar dessa estrutura, não conseguimos reserva em nenhum bom hotel, razão pela qual voltamos para nosso aconchegante chalé Pueblo del Rio, sempre conduzidos pelo nosso amigo Marcos. O Rodrigo resolveu voltar pedalando, mas chegou lá meio cansadinho, pois pegou vento contra.
Resumo do segundo dia: total pedalado – 52,3 km
total de subidas – 681 m
total de descidas – 259 m
total pedalando – 1 h 58min – média 20,8 km/h
Altitude local – 1890 m.

3° DIA DE PEDAL

Sem dúvida o melhor dia de pedal da viagem. Embora o percurso programado era maior, com destino em Los Penitentes, o visual da montanhas cada vez mais altas e o enorme vale por onde passa a estrada e por onde corre o Rio Mendoza, deixava a paisagem tão impressionante, nos transformando em diminutos seres serpenteando pela estrada, deixando à mostra toda a nossa pequenez existência, o que nos proporcionava um imenso prazer sobre a bicicleta e não nos deixando perceber as enormes subidas.
Nesse dia, passamos por muitos túneis, sempre na ponta de uma escarpa que nos deixava tontos para olhar para cima. Esses túneis, e são muitos durante o trajeto, são curtos, mas representam, ao meu ver, o maior perigo à travessia de bicicleta de toda a estrada, já que não tem qualquer área de escape. Por isso, antes de atravessá-los sempre olhávamos nas duas direções para ver se não teríamos companhia das enormes carretas. Durante toda a estrada, se precisássemos, teríamos um acostamento de brita como área de fuga, o que não acontece nos túneis. Além disso, devido à extrema e exótica beleza que proporcionam, na base de montanhas altíssimas, podem tirar um pouco a concentração. Por isso, sempre gritávamos uns para os outros, no intuito de verificar a presença das carretas.
No trajeto de Uspallata até Los Penitentes temos apenas e tão somente a presença das montanhas. Não tem casas, água, comunicação ou qualquer apoio, exceto no km 55,6 em Puente de Vacas. Portanto, o ciclista sem apoio de um veiculo deve ter em mente que vai pedalar no meio do “nada” durante quase 56 km.
Em Puente de Vacas, paramos numa birosquinha na beira da estrada e bebemos água e refrigerantes. Muito caros, mas devido à nossa carência por carbohidratos, tornaram-se baratos.
Durante todo o percurso tivemos vento traseiro nos empurrando montanha acima. E como num passe de mágica, a partir do bar, o vento se tornou contra. E cada vez mais forte. E cada vez tornando a pedalada menos prazerosa. E chegamos a Los Penitentes já cansados de subir montanha com vento contra, que tinha rajadas que quase derrubou dois de nós.
O Marcos nos esperava em Los Penitentes, onde eu eu Rodrigo colocamos a bicicleta sobre a Pick-up. Mas como tínhamos decidido abortar a subida final dos Andes, de Los Penitentes à Las Cuevas, que fica quase na fronteira com o Chile, pois o trajeto muito curto (cerca de 23 km), em troca de uma visita ao Parque do Aconcágua, o Orlando e o Pedro, decidiram pedalar mais 8 km mesmo com o ventão contra e encerrar o dia em Puente del Inca.
Dormimos em Los Penitentes. É bom lembrar que o Hotel Ayelen (creio que único no local), embora lotado de montanhistas não pode ser encarado como confortável. É apenas uma hospedaria que abriga mochileiros em busca das montanhas dos Andes (no inverno fica lotado de esquiadores já que lá funciona uma estação de esqui).
Resumo do terceiro dia: total pedalado – 63,3 km
total de subidas – 1386 m
total de descidas – 671 m
total pedalando – 4 h 32 min – média de 15,6 km/h
Altitude Local – 2601 m


No dia seguinte não pedalamos, mas fizemos uma grande caminhada pelo Parque Provincial do Aconcágua. Qualquer que seja a construção das frases sobre esse passeio, jamais representariam a beleza do local. É realmente deslumbrante.
Depois do passeio, entramos no carro e fizemos os trâmites burocráticos, chatos, demoradíssimos e incompreensíveis devido ao Mercosul, que ao que tudo indica, união só no papel. A seguir nos dirigimos ao Hotel Portillo, uma elegante estação de esqui chilena, situado bem pertinho da fronteira, a 2870 m de altitude.
Durante o verão o hotel fica fechado, só funcionando o restaurante e só abrindo hospedagem nos chalés, ficando todo o grande prédio principal em reforma para abrigar os esquiadores no inverno, sempre contando, inclusive, com equipes de esqui do hemisfério norte, que vão à Portillo manter o treinamento durante os meses de verão em seus países. O chalé, voltado para um lago, dá vontade de nunca mais sair de lá!!!

4° DIA DE PEDAL

Saimos de Portillo, sabendo que teríamos pela frente uma descida constante de ingrime. Logo nos primeiros quilômetros, encontramos os “caracoles”, uma sucessão de 29 curvas de 180°, fazendo a altitude despencar e todas a inúmeras vezes que parávamos para tirar fotos, pois a beleza é imensa, sempre pensávamos em nos livrar das roupas que vestimos para iniciar a pedalada no frio de Portillo. Assim, casados, corta-ventos, manguitos, toucas, etc, foram enchendo os bolsos traseiros da nossas camisas.
Depois de algum tempo, a partir do momento que as montanhas vão se acabando e a temperatura subindo, a pedalada perde um pouco (se não muito) o prazer. Mas nossa programação era pedalar até o Pacífico, na cidade de Vina del Mar, mas quando os Andes ficaram para trás, ainda tínhamos 170 km pela frente, embora ainda desceríamos dos nossos 800 metros de altitude rumo ao nível do mar. Então, vamos seguir a programação!!!
Porém, as estradas chilenas (ruta 60 – que liga os Andes a Vina del Mar) são boas......PARA CARROS!!!. Não têm acostamento pavimentado e têm um fluxo de veículos grande. Isso aliás, foi um erro que cometi no planejamento, pois pelas imagens que eu obtive pela internet, tais estradas pareciam muito mais amistosas do que na realidade.
Mas fomos em frente, porque o programado era chegar no mar. Mas o calor intenso e os constantes sustos que tomávamos devido ao tráfego de veículos mudaram minha decisão e lá pelo km 100 da pedalada, me rendi e subi no carro. O Orlando me acompanhou. O Rodrigo e o Pedro resolveram continuar, apesar do vento forte, contra.
Mais adiante o Pedro resolveu também subir no carro. Como o Rodrigo continuou, eu e o Orlando decidimos acompanhá-lo e chegamos ao Oceano Pacífico, na cidade de Concon.
Todos pedalamos nesse dia cerca de 140 km, exceto o Rodrigo, que fez todo o trajeto e percorreu os 190 km.
Numa próxima oportunidade, me hospedo em Portillo, desço os caracoles, pedalo até Los Andes e subo no carro!!! Em compensação, faço a pedalada de Los Penitentes até Las Cuevas, mas sempre lembrando que o vento por lá costuma ser contra e forte.

Descansamos um dia em Vina del Mar e no dia seguinte, com as bicicletas sobre a pick-up, nos dirigimos para o nosso último dia de pedal, a subida do Valle Nevado.

5° DIA DE PEDAL

Começamos em Las Condes, distrito vizinho a Santiago. A subida é longa e numa estrada de pouco movimento, sendo que a partir do quilômetro 12, aproximadamente, tomamos a estrada que nos leva apenas para Farellones e Valle Nevado, com movimento de carros muitíssimo reduzido. Como dito, a subida é longa, dura, mas a paisagem, subindo novamente os Andes, nos faz esquecer um pouco o cansaço. No entanto, quando começamos as curvas em 180° e são muitas, a inclinação não é grande. Dessa forma, a subida lançante torna a pedalada prazerosa. Só não devemos olhar muito para cima, pois se identificarmos as casas de Farellones, minúsculos pontos na montanha, vai ser fácil nos sentir impotentes para vencer tamanho desnível. E dessa vez, quase não temos descidas para descansar.
No entanto, após um longo tempo de pedal, chegamos ao Valle Nevado, tendo o prazer da chegada suplantado em muito o cansaço.
Um fato importante é que durante todo o trajeto, não há uma gota de água para nos reabastecer e não há uma birosquinha sequer para comprar alguma coisa. Portanto, quem quiser se aventurar, tem que ter em mente que deve levar alimentos, carboidratos e levar muita, mas muita água, já que o clima seco nos faz beber muito mais água do que o habitual.
Resumo do quinto dia: total pedalado – 44,6 km
total de subidas – 2390 m
total de descidas – 246 m
total pedalando – 4h 43 min. - média de 9,5 km/h
Obs.: o Rodrigo e o Pedro fizeram em 3 h e 50 min de pedal.
Atitude no início da pedalada – 880 m
Altitude do Valle Nevado - 3025 m

RESUMINDO:
Uma aventura singular e que já me dá vontade de repeti-la. Devemos lembrar entretanto, de algumas coisas:
protetor solar (para pelo e lábios) muito importante;
na parte alta da montanha temos frio, mesmo no verão. Assim temos que levar roupas de manga comprida, manguitos, pernitos, corta-ventos, etc.;
no alto dos Andes, geralmente o vento é contra e forte (para quem se dirige ao Chile);
quem quiser alugar carro no Chile e atravessar a fronteira da Argentina, não esquecer de solicitar autorização para isso (sem ela nada feito!). E as locadoras cobrar 120 dólares por isso!!!;
na subida do Valle Nevado sem corro de apoio, sugiro um kamelback dos grandes e mais duas caramanholas de água, sem contar em comida;
leve a menor quantidade de roupas possível, pois não teremos tempo para usá-las. E lembrar que o limite de bagagem Brasil – Chile é de somente 23 kg. Portanto, uma malabike quase atinge isso. E a Lanchile é rigorosa em cobrar excesso. Dessa forma, o segredo é ter uma mala de mão grande o suficiente para caber nossa roupa e que atenda ao tamanho máximo para bagagem de mão.