Dá Pedal

Toda e qualquer pedalada tem um começo e um destino. Mas sempre tem um desafio. Pode ser uma montanha, uma serra, a chegada triunfante numa cachoeira. Ir de encontro ao mar. Portanto existem múltiplas razões para irmos a algum lugar, podendo até estar misturados alguns ingredientes, como por exemplo, turismo, prática esportiva, contemplação de paisagens, história, culto a alguma alusão religiosa, etc.
Mas sempre o prazer de pedalar. E com a sensação deliciosa de nos locomovermos num veículo que não degrada o meio ambiente, não polui e nos deixa com uma ótima qualidade de vida.
A marca, a idéia do nome e do próprio blog foi de um grande amigo, o publicitário Sergio Quadros. Como já sou quase sexagenário, meu apelido é "Velho" e o nome "Dá pedal" faz alusão à uma expressão muito usada insinuando que alguma coisa pode dar certo. A arte da marca, que achei sensacional, foi me dado de presente por ele, e tem como moldura uma coroa da bicicleta, mas deixando passar também a mensagem do coroa que está na foto, permitindo a todos se sentirem capazes de pedalar.
Ou seja, " Dá Pedal !!"

sábado, 28 de maio de 2016

CAMINHO DA FÉ


Saí do Rio de Janeiro para a realização do Caminho da Fé (www.caminhodafe.com.br) no dia 21 de maio de 2016, juntamente com Rogerio Proner, Edson Rocha, Sergio Quadros e Satoy Matsuoka. O caminho começou a ser idealizado nesta cidade, mas com o sucesso obtido outras prefeituras aderiram e por isso ganhou quatro ramificações, mas todas passando por Águas da Prata, no norte de São Paulo. Portanto, a partir daí é sempre o mesmo percurso.
A ideia inicial era deixar o carro em Águas da Prata e procurar alguém para leva-lo para Aparecida. E esta ideia se mostrou bem mais fácil do que imaginávamos, já que existe uma pessoa que divulga exatamente este serviço. (Luiz Carlos, tel: 19 36422995 ou 19 991977521)
Comprei antecipadamente o Guia do Caminho da Fé, do Antonio Olinto e Rafaela Asprino, que trás todas as informações pertinentes sobre a cicloviagem (www.olinto.com.br).
Ao chegar em Águas de Prata, vi que cometi o primeiro erro: não reservei nenhuma pousada, o que é muito, mas muito importante, já que todas as existentes pelo caminho não são grandes e na chegada a zonas mais turísticas como Campos do Jordão, elas estavam lotadas. É claro que o feriadão de Corpus Christi agravou esta situação e também porque muitos peregrinos decidem fazer o menor percurso regulamentar (100 km). Ou seja, quanto mais perto do destino, mais vemos pessoas. No trajeto vimos pouquíssimos caminhantes (estatística atual aponta cerca de 80% de ciclistas), mas depois de Campos do Jordão era possível encontrar muitos grupos.
Portanto, é necessário agendar sim as pousadas, embora esta conduta impeça mudanças de plano quando se decide parar antes do objetivo diário devido a cansaço, ao clima, a problemas mecânicos na bicicleta ou qualquer outro motivo. Claro que impede também avançar um pouco no dia se a pessoa ou o grupo estiver bem.
Por inexperiência mudamos duas vezes e já na primeira parada, 8 km antes do objetivo, que seria Barra, quando paramos porque o pôr do sol se aproximava e teríamos uma descida longa e íngreme pela frente. Durante uma conversa com um ciclista que estava na sua quarta temporada e tinha grande conhecimento do Caminho, ficou claro que os sete dias da minha programação seria um período muito dilatado e acabamos por termina-lo em cinco.
Por isso escrevo este relato, pois quem sabe, ajude na tomada de decisão de quem o ler. Com certeza vou percorrer o Caminho da Fé novamente, mas o farei em seis dias para poder usufruir e conhecer as cidades pelo trajeto, o que não aconteceu, já que sempre chegávamos cansados, querendo um bom banho e uma boa cama.
Chegamos em Águas da Prata e fomos direto para a Pousada Refugio dos Peregrino Anjos do Caminho, de propriedade do Sr. Clovis e Sra. Tina, idealizadores do Caminho e onde tudo começou, onde adquirimos a Credencial do Peregrino. Mas por incrível que pareça, não é a melhor pousada. Não tem janta, café da manhã e não é fácil conseguir este conforto, numa cidade tão pequena, muito cedo ou mais tarde. Mas tem tudo que precisamos para uma noite de sono: cama (não espere um colchão da ortobom), banheiro digno, sala de estar, água, etc.
É bom lembrar que as pousadas no percurso são muito, mas muito simples. Ou seja, há que se desligar do conforto que temos em casa, mas são limpas (quer dizer, mais ou menos), possui roupa de cama e toalha (aqui também não se pode esperar o mesmo lençol usado pela Rainha da Inglaterra). Mas como estaremos cansados, mesmo um colchão em “U” vai parecer uma cama king size.
Ah, pode ser um paradoxo, mas a maioria tem wifi !!


ÁGUAS DA PRATA – SERRA DOS LIMA
A ideia era ir até Barra, mas paramos um pouco antes, pois apenas a seis quilômetros do objetivo do dia, o lugar era lindo, estava entardecendo e começando a chuviscar.
A pousada da Dona Natalina é um exemplo de simplicidade e ela, uma coroinha que vive pitando ser cigarro de fumo de rolo, um exemplo de simpatia e hospitalidade. A minha cama era em “U”, mas o jantar foi fenomenal (não podemos esquecer que estávamos famintos) e o café da manhã bem digno, tudo isso por R$ 50,00. E a cerveja e coca-cola geladinhas por um preço menor que pagamos nos bares de nossa cidade.
De Águas da Prata até Andradas são 30 km com muitas subidas e uma descida muito íngreme e perigosa no final, mas passamos nas proximidades no Pico do Gavião o que deixa o percurso muito lindo. Detalhe: não é possível encontrar água durante muitos quilômetros, ou seja, leve este líquido precioso em abundância.
De Andradas até Serra dos Lima, como sempre muita subida e visual estonteante (aliás esta é a tônica durante todo o  Caminho: sempre muito lindo, subindo muito, descendo muito......plano que é bom....esquece!!). Mas no finalzinho da serra é tão inclinado que puseram asfalto. Empurramos as bicicletas por uns 2 km. Mas quando se chega lá em cima a vista compensa. E alquns quilômetros após o final da subida tem o Bar da Preta, que serve o melhor aipim frito do universo. Pra quem gosta de uma cervejinha, sem problemas, pois a pousada é só poucos quilômetros à frente e em descida leve.


Foram 46,2 km,  8:14 hs de viagem (7:19 em movimento) , claro que contando com as muitas paradas para comer, apreciar o visual, etc. Total de ascensão 1206 m, desenso 826 m, maior altitude 1399 m e menor altitude 830m.
(todas as altimetrias vão ser postadas, assim como a track do gps. Mas o Manual tem tudo isso)

https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189119

(PARA VER O TRACK DO GPS, BASTA FAZER CTRL C/CTRL V NESSES ENDEREÇOS DE CADA ETAPA)






SERRA DOS LIMA – BORDA DA MATA

Durante a noite caiu muita chuva, com trovoadas, anunciando a frente fria que já estava prevista. Quando saímos, às 8 da manhã, o volume de água que caía era bem menor, mas a estrada era lama pura, tornando a descida dos quilômetros iniciais perigosa. Lá pelas 10 horas até o chuvisco acabou, ficando só o frio, que frio. E muita lama.
Nesse dia o Rogerio decidiu voltar de carona para pegar o carro para deixa-lo sempre por perto, o que se mostrou extremamente adequado, pois a bicicleta do Sergio teve a gancheira quebrada logo depois de Crisólia, e todas as tentativas para solucionar o problema em bicicletarias por perto foram ineficientes. Então, num “petit comité” decidimos que continuaríamos sempre em grupo de quatro, enquanto um quinto integrante conduziria o carro na retaguarda.
A pedalada até Ouro Fino (do Menino da Porteira) foi com poucos aclives e poucos declives, mas depois de Ouro Fino as subidas voltaram, mas sem radicalismo.

No caminho passamos por Inconfidentes, onde paramos um pouco para comer um sanduiche.
Chegamos em Borda da Mata após 62 km, 7:37 h de viagem (6:40 de em movimento), 979 m de ascensão e  m de descenso. Altitude máxima 1264m e menor altitude 853 m.
Ficamos no Hotel Virginia, bem confortável, R$ 60,00 com um bom café da manhã. O hotel não tinha janta, mas como era bem no centro de uma cidade pequena e agradável, achamos um bom restaurante.

https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189142




BORDA DA MATA – CONSOLAÇÃO
As grandes subidas voltaram, assim como as descidas. E com isso o visual é sempre mais bonito lá de cima. E como o sol e céu azul voltaram tudo ficou muito lindo. Mas o frio que ficou fez com que primeira hora, até tudo se aquecer, fosse congelante. Mas não menos prazeroso.







Depois que passa Andradas, é muito fácil conseguir água. Portanto não é necessário se preocupar muito com isso.
Tocos do Moji é uma cidadezinha deliciosa, limpa e agradável.  Mas em todos os lugares, pousadas, igrejas que parávamos para carimbar nossa credencial, a clima e a hospitalidade eram sempre muito diferentes do que nos acostumamos nas grandes cidades.

De Tocos do Moji até Estiva, capital nacional do Morango, pedalamos horas margeando plantações dessa fruta, mais subidas, mais descidas, mais visuais deslumbrantes. Uma rápida parada para nos abastecer e continuar até Consolação. Nesta etapa uma subida bem forte, onde empurramos as bicicletas algumas vezes, mas sempre recompensados pela linda vista no final.




Como fizemos paradas longas, calculamos mal o tempo e chegamos a Consolação já no escuro, consequentemente com frio e sem poder observar as propriedades de beneficiamento do polvilho, típicas de lá.
Foram 58 km, 10:26 hs de pedal (9:38 de movimento), 1813 m de subidas, 1522 de descidas, maior altitude 1329 m e menor altitude 839 m.
(o gps perdeu alguns km pois acabou a  bateria)
Consolação é uma micro-cidade, de apenas 2000  habitantes. Ficamos da Pousada Casarão, bem simples, mas confortável. R$ 60,00 com janta muito boa e café da manhã.

https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189175

CONSOLAÇÃO – CAMPISTA
Até aqui demos sorte, pois não tínhamos reservas, e sempre conseguimos pousada. Mas após alguns comentários de outros peregrinos resolvemos ligar para reservar, já que nesta etapa subiríamos a Serra da Luminosa, em direção à região de Campos do Jordão. E chegaríamos lá em cima em plena véspera de feriadão. Campista é um bairro de Campos do Jordão.
Tudo lotado!!!
Após consumir a conta do celular do Rogerio com muitas e muitas ligações, conseguimos a melhor pousada de todas até aqui, que só não está cadastrada por ficar cerca de 1,8 km fora do Caminho. Mas a pousada oficial nos forneceu o telefone da Dona Nequinha, ligamos e conseguimos agendar graças ao atraso no depósito prévio de um grupo que tinha reservado.
Que sorte!
Saímos de Consolação com um dia lindo e com um frio danado. Os primeiros quilômetros são pela rodovia, mas 17 minutos depois pegamos uma estrada de terra e tudo ficou mais gostoso. Até Paraisópolis tem uma parte inicial com poucos aclives e declives, mas a partir do nono quilômetro o bicho começa a pegar novamente. A chegada em Paraisópolis é em descida. Mas quase chegando lá, em uma curva, consegue-se visualizar a Pedra do Baú, que fica em São Bento do Sapucaí. Lindo!!
De Paraisópolis até Luminosa, distrito de Brasópolis, tem um subidão também, tem que empurrar a magrela em alguns pontos, mas a descida da serra para se chegar em Luminosa é simplesmente fantástica, linda, onde se observa o vale e ao fundo a Serra da Luminosa, que nos leva até a área de Campos do Jordão.
Por incrível que pareça, o maior ganho de elevação do percurso não é o mais bonito. Na Serra da Luminosa, a gente empurra a bicicleta por quase três horas, pois é muito inclinado e o piso muito ruim. E a vista desaparece no km 7, pois entramos na mata. Mas bem lá em cima, volta a ficar pedalável e lindo. A gente chega lá em cima depois de padalar durante umas duas horas por uma floresta de pinheiros. Sensacional!
Com Dona Nequinha (12  997667306 – www.dicasdehoteis.com/01/01 casa da pedra do bau
Campista (que é um bairro de Campos do Jordão).
R$ 60,00 com um delicioso jantar e um excelente café da manhã)
Chegamos novamente à noite, sob um frio congelante, mas como no final da subida (9 km após a Dona Inês) começa o asfalto da rodovia que liga Campos do Jordão a São Bento do Sapucaí, a o pedal desenvolve bem, apesar da falta de luz natural. Por isso é importante levar a iluminação da bicicleta.
Foram 65,4 km, 10:21 hs (9:43 hs em movimento), 1943 m de subidas, 1315 de descidas, maior altitude 1739m e menor altitude 1315 metros.

A melhor opção, em minha opinião é ficar no km 4 da subida, na pousada da Dona Inês, com uma vista linda e a proprietária, que dá nome à pousada, muito simpática, como sempre. E só na manhã seguinte, subir a difícil e muito cansativa serra e parar novamente em Campos do Jordão, onde se chegaria bem cedo, para poder usufruir desta famosa cidade. Deixando para o ultimo dia a descida direto para Aparecida, onde se chegaria lá pelo meio dia, dando tempo de curtir e comemorar a chegada e providenciar o volta para casa.
Foram 65,4 km, 10:21 hs (9:43 hs em movimento), 1943 m de subidas, 1315 de descidas, maior altitude 1739m e menor altitude 1315 metros.
(o gps perdeu alguns km pois acabou a  bateria)

https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189204

CAMPISTA – APARECIDA
Saímos sob um frio intenso, mas a pedalada até Campos do Jordão tem umas subidas por dentro da mata. Por isso logo esquenta tudo, sem contar que o trajeto é muito bonito.
Carimbamos nossas credenciais na pousada de Campos e depois disso, uma subida gostosa pelo asfalto liso da estrada velha e começa-se a descer a serra. Ainda pela estrada velha o visual é lindo. 

Depois, cruza-se a linha do trem (atenção: neste ponto é que ocorre uma bifurcação – os caminhantes vão pela linda do trem e na mureta de contenção bem no cruzamento consegue-se observar uma bicicleta pintada em amarelo indicando que os ciclistas descem pelo asfalto e os caminhantes pela linha do trem).
Como toda descida, esta também é muito boa, pois o piso do acostamento é bem lisinho, largo, permitindo uma descida com segurança. Lá embaixo, já na baixada, no primeiro trevo, após o posto policial pegamos à esquerda, seguindo a sinalização para Aparecida e daí em diante, com uma boa estrada, sempre com acostamento, vamos pedalando, quase no plano, passando por Pindamonhagaba e depois a nossa chegada triunfal na Basílica de Nossa Senhora da Aparecida.





Nessa etapa foram 7:41 hs  no percurso, sendo 7: 26  hs em movimento, um descenso total de 1238 metros, mas com aclive total de 855 m, ou seja, mesmo no dia de nos despencarmos lá de cima da serra, ainda temos que subir. A maior altitude foi de 1760 m e a menor, 535 metros.

https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189221

Fica a pergunta: farei de novo? CLARO!!!
Mesmo com os seus 6976 metros de ascensão. Mas convenhamos, o que queremos é montanha mesmo!!


É bom lembrar que o percurso é muito, mas muito bem sinalizado com as setas amarelas em placas próprias, ou pintadas com tinta amarela em postes, árvores ou qualquer outra coisa que aceite a pintura. Não há como se perder!
A volta para casa pode ser feita no mesmo dia da chegada, pois mesmo para quem saiu de Campista chega em Aparecida com folga para pegar o certificado (na secretaria da pastoral - bem em baixo da imagem de Nossa Senhora da Aparecida) e comemorar bastante, curtindo os detalhes da Basílica e com tempo de sobra para rezar, para os que assim o desejam.
Carro de apoio – não é imperioso, mas ajuda muito e, principalmente em grupos, dá muita segurança. Fizemos parte sem o carro, e podemos garantir que o alforje muda completamente o pedal, tornando tudo muito mais difícil. Mas para quem vai com os alforjes, uma dica importante: leve o mínimo dos mínimos. Eu levei o mínimo dos mínimos e no final muita coisa não foi nem tocada. (é bem chatinho empurrar as bicicletas com os alforjes, pois não conseguimos ficar colados à ela)
Caso optemos por este “luxo” podemos ser menos econômicos no que pretendermos levar e ainda por cima pedalaremos bem levinhos. O carro, desde que 4 x 4, passa por todo o trajeto. Mas esta informação pode mudar no período chuvoso.
Temos que levar, no mínimo, duas mudas de roupas para ciclismo. Em todas as pousadas tem estrutura para lavar roupa, mas pouquíssimas tem como secá-las. E com meios naturais, elas não secarão. Um de nós lavou roupa na primeira pousada e ficou com ela molhada até o final,sem poder usá-la.
Não podemos esquecer da “segunda pele” por causa do frio, um anorak, corta-vento, meias, um bom impermeável, pernitos, manguitos, uma bermuda para passear (só a usei uma vez!), um conjunto de micro-fibra de manga comprida e calça que proteja bem do frio para quando estivermos nas paradas, meias, número de cuecas igual ao número de dias (a não ser que decida usá-la mais de um dia, mas isso não é problema meu (rsrs), duas luvas de ciclismo (de abril a novembro uma luva que proteja do frio é muito importante).
Não podemos esquecer de uma boa e pequena nécessaire com medicamentos, para dor, relaxante muscular, curativos bandaid, etc. Além dos itens para higiene. Uma ótima ideia é levar um pacotinho com lenços umedecidos, pois quando precisamos usar o mato como banheiro, temos que ficar bem limpinhos para não dar assaduras.
Não esquecer também das luzes da bicicleta e uma leve e portátil headlamp


BOM CAMINHO

3 comentários:

  1. Parabens!! Muito bacana... oooo inveja boa essa!

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    1. se quiser voltar, um uniforme do bikevirus está garantido!!!

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  2. Obrigado Elmo por me permitir participar dessa aventura. Nem eu julgava possível.

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