CAMINHO DA FÉ
Saí do Rio
de Janeiro para a realização do Caminho da Fé (www.caminhodafe.com.br) no dia 21 de maio de 2016, juntamente com Rogerio Proner,
Edson Rocha, Sergio Quadros e Satoy Matsuoka. O caminho começou a ser
idealizado nesta cidade, mas com o sucesso obtido outras prefeituras aderiram e
por isso ganhou quatro ramificações, mas todas passando por Águas da Prata, no
norte de São Paulo. Portanto, a partir daí é sempre o mesmo percurso.
A ideia
inicial era deixar o carro em Águas da Prata e procurar alguém para leva-lo
para Aparecida. E esta ideia se mostrou bem mais fácil do que imaginávamos, já
que existe uma pessoa que divulga exatamente este serviço. (Luiz Carlos, tel:
19 36422995 ou 19 991977521)
Comprei antecipadamente
o Guia do Caminho da Fé, do Antonio Olinto e Rafaela Asprino, que trás todas as
informações pertinentes sobre a cicloviagem (www.olinto.com.br).
Ao chegar em
Águas de Prata, vi que cometi o primeiro erro: não reservei nenhuma pousada, o
que é muito, mas muito importante, já que todas as existentes pelo caminho não
são grandes e na chegada a zonas mais turísticas como Campos do Jordão, elas estavam
lotadas. É claro que o feriadão de Corpus Christi agravou esta situação e
também porque muitos peregrinos decidem fazer o menor percurso regulamentar
(100 km). Ou seja, quanto mais perto do destino, mais vemos pessoas. No trajeto
vimos pouquíssimos caminhantes (estatística atual aponta cerca de 80% de
ciclistas), mas depois de Campos do Jordão era possível encontrar muitos
grupos.
Portanto, é
necessário agendar sim as pousadas, embora esta conduta impeça mudanças de
plano quando se decide parar antes do objetivo diário devido a cansaço, ao
clima, a problemas mecânicos na bicicleta ou qualquer outro motivo. Claro que
impede também avançar um pouco no dia se a pessoa ou o grupo estiver bem.
Por
inexperiência mudamos duas vezes e já na primeira parada, 8 km antes do
objetivo, que seria Barra, quando paramos porque o pôr do sol se aproximava e
teríamos uma descida longa e íngreme pela frente. Durante uma conversa com um
ciclista que estava na sua quarta temporada e tinha grande conhecimento do
Caminho, ficou claro que os sete dias da minha programação seria um período
muito dilatado e acabamos por termina-lo em cinco.
Por isso
escrevo este relato, pois quem sabe, ajude na tomada de decisão de quem o ler.
Com certeza vou percorrer o Caminho da Fé novamente, mas o farei em seis dias
para poder usufruir e conhecer as cidades pelo trajeto, o que não aconteceu, já
que sempre chegávamos cansados, querendo um bom banho e uma boa cama.
Chegamos em
Águas da Prata e fomos direto para a Pousada Refugio dos Peregrino Anjos do
Caminho, de propriedade do Sr. Clovis e Sra. Tina, idealizadores do Caminho e
onde tudo começou, onde adquirimos a Credencial do Peregrino. Mas por incrível
que pareça, não é a melhor pousada. Não tem janta, café da manhã e não é fácil
conseguir este conforto, numa cidade tão pequena, muito cedo ou mais tarde. Mas
tem tudo que precisamos para uma noite de sono: cama (não espere um colchão da
ortobom), banheiro digno, sala de estar, água, etc.
É bom
lembrar que as pousadas no percurso são muito, mas muito simples. Ou seja, há
que se desligar do conforto que temos em casa, mas são limpas (quer dizer, mais
ou menos), possui roupa de cama e toalha (aqui também não se pode esperar o
mesmo lençol usado pela Rainha da Inglaterra). Mas como estaremos cansados,
mesmo um colchão em “U” vai parecer uma cama king size.
Ah, pode ser
um paradoxo, mas a maioria tem wifi !!
ÁGUAS DA
PRATA – SERRA DOS LIMA
A ideia era
ir até Barra, mas paramos um pouco antes, pois apenas a seis quilômetros do objetivo do dia, o lugar era lindo, estava entardecendo e começando a chuviscar.
A pousada da
Dona Natalina é um exemplo de simplicidade e ela, uma coroinha que vive pitando
ser cigarro de fumo de rolo, um exemplo de simpatia e hospitalidade. A minha
cama era em “U”, mas o jantar foi fenomenal (não podemos esquecer que estávamos
famintos) e o café da manhã bem digno, tudo isso por R$ 50,00. E a cerveja e
coca-cola geladinhas por um preço menor que pagamos nos bares de nossa cidade.
De Águas da
Prata até Andradas são 30 km com muitas subidas e uma descida muito íngreme e
perigosa no final, mas passamos nas proximidades no Pico do Gavião o que deixa
o percurso muito lindo. Detalhe: não é possível encontrar água durante muitos
quilômetros, ou seja, leve este líquido precioso em abundância.
De Andradas
até Serra dos Lima, como sempre muita subida e visual estonteante (aliás esta é
a tônica durante todo o Caminho: sempre
muito lindo, subindo muito, descendo muito......plano que é bom....esquece!!).
Mas no finalzinho da serra é tão inclinado que puseram asfalto. Empurramos as
bicicletas por uns 2 km. Mas quando se chega lá em cima a vista compensa. E alquns
quilômetros após o final da subida tem o Bar da Preta, que serve o melhor aipim
frito do universo. Pra quem gosta de uma cervejinha, sem problemas, pois a
pousada é só poucos quilômetros à frente e em descida leve.
Foram 46,2
km, 8:14 hs de viagem (7:19 em
movimento) , claro que contando com as muitas paradas para comer, apreciar o
visual, etc. Total de ascensão 1206 m, desenso 826 m, maior altitude 1399 m e
menor altitude 830m.
(todas as
altimetrias vão ser postadas, assim como a track do gps. Mas o Manual tem tudo
isso)
https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189119
(PARA VER O TRACK DO GPS, BASTA FAZER CTRL C/CTRL V NESSES ENDEREÇOS DE CADA ETAPA)
(PARA VER O TRACK DO GPS, BASTA FAZER CTRL C/CTRL V NESSES ENDEREÇOS DE CADA ETAPA)
SERRA DOS
LIMA – BORDA DA MATA
Durante a
noite caiu muita chuva, com trovoadas, anunciando a frente fria que já estava
prevista. Quando saímos, às 8 da manhã, o volume de água que caía era bem
menor, mas a estrada era lama pura, tornando a descida dos quilômetros iniciais
perigosa. Lá pelas 10 horas até o chuvisco acabou, ficando só o frio, que frio.
E muita lama.
Nesse dia o
Rogerio decidiu voltar de carona para pegar o carro para deixa-lo sempre por
perto, o que se mostrou extremamente adequado, pois a bicicleta do Sergio teve
a gancheira quebrada logo depois de Crisólia, e todas as tentativas para
solucionar o problema em bicicletarias por perto foram ineficientes. Então, num
“petit comité” decidimos que continuaríamos sempre em grupo de quatro, enquanto
um quinto integrante conduziria o carro na retaguarda.
A pedalada
até Ouro Fino (do Menino da Porteira) foi com poucos aclives e poucos declives,
mas depois de Ouro Fino as subidas voltaram, mas sem radicalismo.
No caminho
passamos por Inconfidentes, onde paramos um pouco para comer um sanduiche.
Chegamos em
Borda da Mata após 62 km, 7:37 h de viagem (6:40 de em movimento), 979 m de
ascensão e m de descenso. Altitude
máxima 1264m e menor altitude 853 m.
Ficamos no
Hotel Virginia, bem confortável, R$ 60,00 com um bom café da manhã. O hotel não
tinha janta, mas como era bem no centro de uma cidade pequena e agradável,
achamos um bom restaurante.
https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189142
BORDA DA
MATA – CONSOLAÇÃO
As grandes
subidas voltaram, assim como as descidas. E com isso o visual é sempre mais
bonito lá de cima. E como o sol e céu azul voltaram tudo ficou muito lindo. Mas
o frio que ficou fez com que primeira hora, até tudo se aquecer, fosse
congelante. Mas não menos prazeroso.
Depois que
passa Andradas, é muito fácil conseguir água. Portanto não é necessário se
preocupar muito com isso.
Tocos do
Moji é uma cidadezinha deliciosa, limpa e agradável. Mas em todos os lugares, pousadas, igrejas
que parávamos para carimbar nossa credencial, a clima e a hospitalidade eram sempre
muito diferentes do que nos acostumamos nas grandes cidades.
De Tocos do
Moji até Estiva, capital nacional do Morango, pedalamos horas margeando
plantações dessa fruta, mais subidas, mais descidas, mais visuais
deslumbrantes. Uma rápida parada para nos abastecer e continuar até Consolação.
Nesta etapa uma subida bem forte, onde empurramos as bicicletas algumas vezes,
mas sempre recompensados pela linda vista no final.
Como fizemos
paradas longas, calculamos mal o tempo e chegamos a Consolação já no escuro,
consequentemente com frio e sem poder observar as propriedades de
beneficiamento do polvilho, típicas de lá.
Foram 58 km,
10:26 hs de pedal (9:38 de movimento), 1813 m de subidas, 1522 de descidas,
maior altitude 1329 m e menor altitude 839 m.
(o gps
perdeu alguns km pois acabou a bateria)
Consolação é
uma micro-cidade, de apenas 2000
habitantes. Ficamos da Pousada Casarão, bem simples, mas confortável. R$
60,00 com janta muito boa e café da manhã.
https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189175
CONSOLAÇÃO –
CAMPISTA
Até aqui
demos sorte, pois não tínhamos reservas, e sempre conseguimos pousada. Mas após
alguns comentários de outros peregrinos resolvemos ligar para reservar, já que
nesta etapa subiríamos a Serra da Luminosa, em direção à região de Campos do
Jordão. E chegaríamos lá em cima em plena véspera de feriadão. Campista é um
bairro de Campos do Jordão.
Tudo
lotado!!!
Após
consumir a conta do celular do Rogerio com muitas e muitas ligações,
conseguimos a melhor pousada de todas até aqui, que só não está cadastrada por
ficar cerca de 1,8 km fora do Caminho. Mas a pousada oficial nos forneceu o
telefone da Dona Nequinha, ligamos e conseguimos agendar graças ao atraso no
depósito prévio de um grupo que tinha reservado.
Que sorte!
Saímos de
Consolação com um dia lindo e com um frio danado. Os primeiros quilômetros são
pela rodovia, mas 17 minutos depois pegamos uma estrada de terra e tudo ficou
mais gostoso. Até Paraisópolis tem uma parte inicial com poucos aclives e
declives, mas a partir do nono quilômetro o bicho começa a pegar novamente. A chegada
em Paraisópolis é em descida. Mas quase chegando lá, em uma curva, consegue-se
visualizar a Pedra do Baú, que fica em São Bento do Sapucaí. Lindo!!
De
Paraisópolis até Luminosa, distrito de Brasópolis, tem um subidão também, tem
que empurrar a magrela em alguns pontos, mas a descida da serra para se chegar
em Luminosa é simplesmente fantástica, linda, onde se observa o vale e ao fundo
a Serra da Luminosa, que nos leva até a área de Campos do Jordão.
Por incrível
que pareça, o maior ganho de elevação do percurso não é o mais bonito. Na Serra
da Luminosa, a gente empurra a bicicleta por quase três horas, pois é muito
inclinado e o piso muito ruim. E a vista desaparece no km 7, pois entramos na
mata. Mas bem lá em cima, volta a ficar pedalável e lindo. A gente chega lá em
cima depois de padalar durante umas duas horas por uma floresta de pinheiros.
Sensacional!
Campista (que é um bairro de Campos
do Jordão).
R$ 60,00 com
um delicioso jantar e um excelente café da manhã)
Chegamos
novamente à noite, sob um frio congelante, mas como no final da subida (9 km
após a Dona Inês) começa o asfalto da rodovia que liga Campos do Jordão a São
Bento do Sapucaí, a o pedal desenvolve bem, apesar da falta de luz natural. Por
isso é importante levar a iluminação da bicicleta.
Foram 65,4
km, 10:21 hs (9:43 hs em movimento), 1943 m de subidas, 1315 de descidas, maior
altitude 1739m e menor altitude 1315 metros.
A melhor
opção, em minha opinião é ficar no km 4 da subida, na pousada da Dona Inês, com
uma vista linda e a proprietária, que dá nome à pousada, muito simpática, como
sempre. E só na manhã seguinte, subir a difícil e muito cansativa serra e parar
novamente em Campos do Jordão, onde se chegaria bem cedo, para poder usufruir
desta famosa cidade. Deixando para o ultimo dia a descida direto para
Aparecida, onde se chegaria lá pelo meio dia, dando tempo de curtir e comemorar
a chegada e providenciar o volta para casa.
Foram 65,4
km, 10:21 hs (9:43 hs em movimento), 1943 m de subidas, 1315 de descidas, maior
altitude 1739m e menor altitude 1315 metros.
(o gps
perdeu alguns km pois acabou a bateria)
https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189204
CAMPISTA –
APARECIDA
Saímos sob
um frio intenso, mas a pedalada até Campos do Jordão tem umas subidas por
dentro da mata. Por isso logo esquenta tudo, sem contar que o trajeto é muito
bonito.
Carimbamos
nossas credenciais na pousada de Campos e depois disso, uma subida gostosa pelo
asfalto liso da estrada velha e começa-se a descer a serra. Ainda pela estrada
velha o visual é lindo.
Depois, cruza-se a linha do trem (atenção: neste ponto é que ocorre uma bifurcação – os caminhantes vão pela linda do trem e na mureta de
contenção bem no cruzamento consegue-se observar uma bicicleta pintada em
amarelo indicando que os ciclistas descem pelo asfalto e os caminhantes pela
linha do trem).
Como toda
descida, esta também é muito boa, pois o piso do acostamento é bem lisinho,
largo, permitindo uma descida com segurança. Lá embaixo, já na baixada, no
primeiro trevo, após o posto policial pegamos à esquerda, seguindo a sinalização para Aparecida e daí em diante, com uma boa estrada,
sempre com acostamento, vamos pedalando, quase no plano, passando por
Pindamonhagaba e depois a nossa chegada triunfal na Basílica de Nossa Senhora
da Aparecida.
Nessa etapa
foram 7:41 hs no percurso, sendo 7:
26 hs em movimento, um descenso total de
1238 metros, mas com aclive total de 855 m, ou seja, mesmo no dia de nos
despencarmos lá de cima da serra, ainda temos que subir. A maior altitude foi
de 1760 m e a menor, 535 metros.
https://connect.garmin.com/modern/activity/1186189221
Fica a
pergunta: farei de novo? CLARO!!!
Mesmo com os
seus 6976 metros de ascensão. Mas convenhamos, o que queremos é montanha
mesmo!!
É bom
lembrar que o percurso é muito, mas muito bem sinalizado com as setas amarelas
em placas próprias, ou pintadas com tinta amarela em postes, árvores ou
qualquer outra coisa que aceite a pintura. Não há como se perder!
A volta para
casa pode ser feita no mesmo dia da chegada, pois mesmo para quem saiu de
Campista chega em Aparecida com folga para pegar o certificado (na secretaria da pastoral - bem em baixo da imagem de Nossa Senhora da Aparecida) e comemorar
bastante, curtindo os detalhes da Basílica e com tempo de sobra para rezar,
para os que assim o desejam.
Carro de
apoio – não é imperioso, mas ajuda muito e, principalmente em grupos, dá muita
segurança. Fizemos parte sem o carro, e podemos garantir que o alforje muda
completamente o pedal, tornando tudo muito mais difícil. Mas para quem vai com
os alforjes, uma dica importante: leve o mínimo dos mínimos. Eu levei o mínimo
dos mínimos e no final muita coisa não foi nem tocada. (é bem chatinho empurrar as bicicletas com os alforjes, pois não conseguimos ficar colados à ela)
Caso optemos
por este “luxo” podemos ser menos econômicos no que pretendermos levar e ainda por
cima pedalaremos bem levinhos. O carro, desde que 4 x 4, passa por todo o
trajeto. Mas esta informação pode mudar no período chuvoso.
Temos que
levar, no mínimo, duas mudas de roupas para ciclismo. Em todas as pousadas tem
estrutura para lavar roupa, mas pouquíssimas tem como secá-las. E com meios
naturais, elas não secarão. Um de nós lavou roupa na primeira pousada e ficou
com ela molhada até o final,sem poder usá-la.
Não podemos
esquecer da “segunda pele” por causa do frio, um anorak, corta-vento, meias, um
bom impermeável, pernitos, manguitos, uma bermuda para passear (só a usei uma
vez!), um conjunto de micro-fibra de manga comprida e calça que proteja bem do frio para quando estivermos
nas paradas, meias, número de cuecas igual ao número de dias (a não ser que decida usá-la mais de um dia, mas isso não é problema meu (rsrs), duas luvas de ciclismo (de abril a novembro uma
luva que proteja do frio é muito importante).
Não podemos
esquecer de uma boa e pequena nécessaire com medicamentos, para dor, relaxante
muscular, curativos bandaid, etc. Além dos itens para higiene. Uma ótima ideia
é levar um pacotinho com lenços umedecidos, pois quando precisamos usar o mato
como banheiro, temos que ficar bem limpinhos para não dar assaduras.
Não esquecer
também das luzes da bicicleta e uma leve e portátil headlamp
BOM CAMINHO
Parabens!! Muito bacana... oooo inveja boa essa!
ResponderExcluirse quiser voltar, um uniforme do bikevirus está garantido!!!
ExcluirObrigado Elmo por me permitir participar dessa aventura. Nem eu julgava possível.
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