Dá Pedal

Toda e qualquer pedalada tem um começo e um destino. Mas sempre tem um desafio. Pode ser uma montanha, uma serra, a chegada triunfante numa cachoeira. Ir de encontro ao mar. Portanto existem múltiplas razões para irmos a algum lugar, podendo até estar misturados alguns ingredientes, como por exemplo, turismo, prática esportiva, contemplação de paisagens, história, culto a alguma alusão religiosa, etc.
Mas sempre o prazer de pedalar. E com a sensação deliciosa de nos locomovermos num veículo que não degrada o meio ambiente, não polui e nos deixa com uma ótima qualidade de vida.
A marca, a idéia do nome e do próprio blog foi de um grande amigo, o publicitário Sergio Quadros. Como já sou quase sexagenário, meu apelido é "Velho" e o nome "Dá pedal" faz alusão à uma expressão muito usada insinuando que alguma coisa pode dar certo. A arte da marca, que achei sensacional, foi me dado de presente por ele, e tem como moldura uma coroa da bicicleta, mas deixando passar também a mensagem do coroa que está na foto, permitindo a todos se sentirem capazes de pedalar.
Ou seja, " Dá Pedal !!"

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Todos os caminhos nos levam ao Cristo Redentor






O Rio de Janeiro é conhecido como Cidade Maravilhosa por sua beleza, pelo seu povo alegre e feliz, pelo clima e por muitas, mas muitas outras coisas. Os amantes da natureza encontram aqui uma infinidade de opções para estarem de encontro a ela, a natureza, seja no aplaudido por do sol a Pedra do Arpoador, seja nas lindas praias adornadas por montanhas e florestas, seja em alguma cachoeira na Floresta da Tijuca, ou num simples bebericar de água-de-coco às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. Tudo isso, dentro da cidade. Não é preciso pegar qualquer estrada, por mais curta que seja, para desfrutar de tudo. E não poderia ser diferente para quem gosta de esportes. Aquático, terrestres ou aéreos. Podemos velejar, pedalar, escalar, correr, remar, patinar, caminhar, fotografar, voar...tudo, mas tudo mesmo, sem sair da cidade.
E para os amantes da bicicleta, o Rio fornece uma enorme variedade de opções, seja de MTB ou speed. Para uma simples pedalada, muitos quilômetros de ciclovias nos permitem passear, enquanto nos deliciamos com a paisagem. E para treinar mais forte, muitas subidas, que nos permitem pedalar o ano todo, pois até mesmo no verão forte, temos a cobertura da Mata Atlântica para nos proteger.
Assim é a Floresta da Tijuca e seus inúmeros caminhos, sendo que todos eles nos levam ao Cristo.

Subida da Vista Chinesa – Mesa do Imperador
Começa no bairro do Horto, exatamente atrás do Jardim Botânico – Piso asfaltado antigo mas de razoável conservação, movimento de veículos muito reduzido e presença policial constante, por ser uma área muito visitada por turistas face à beleza e à esplêndida vista da cidade. Pode-se pedalar mesmo sob sol forte, pois é quase totalmente sombreada pela Mata Atlântica. Passamos pela Vista Chinesa, Mesa do Imperador, podendo continuar, já em descida, até ao Alto da Boa Vista, ponto de encontro de todos os caminhos.
Local muito frequentado por ciclistas.
Detalhe importante é que, de quase todos os bairros da zona sul, pode-se pedalar apenas por ciclovias até o Jardim Botânico.
Outro detalhe é que na subida encontramos água de nascentes para reabastecimento.

Subida do Alto da Boa Vista pela Tijuca.
A estrada que liga a Tijuca à Barra, tem um movimento grande de veículos, já que é uma importante ligação entre esses dois bairros. Porém, a subida do Alto possui piso de cimento, largo, permitindo uma pedalada segura. E vemos muitos ciclistas usando essa via, que também possui uma cobertura vegetal (Mata Atlântica), fazendo com que o sol, não atrapalhe, mesmo nos dias quentes.
A estrada começa no bairro Usina, no final de uma das mais importantes ruas da Tijuca, a Conde de Bonfim.

Subida do Alto da Boa Vista pela Barra.
Assim que atravessamos a ponte sobre a canal das lagoas da Barra, chegamos ao Itanhangá, onde começa a Estrada de Furnas, ligando o bairro ao Alto.
O piso também é de cimento, com grande fluxo de veículos. Porém, nesse lado na montanha a estrada não é muito larga, tirando bastante o prazer da pedalada, face à segurança comprometida.


Subida do Alto da Boa Vista por São Conrado.
Podemos também subir o Alto pela Estrada das Canoas, que começa em São Conrado. O piso é de cimento e o movimento de veículos não é muito grande, proporcionando uma pedalada segura. Além disso, há lugares onde podemos apreciar uma vista lindíssima da Praia de São Conrado e das montanhas, sendo a mais imponente a Pedra da Gávea.

Uma vez no Alto da Boa Vista, onde bem perto da pracinha principal, tem um posto de gasolina, com amplo estacionamento e uma lanchonete, sendo um ponto bastante estratégico para ciclistas, razão pela qual, costumamos vê-los com frequência todos os dias, sendo que nos finais de semanas, ocorre uma verdadeira invasão. Por isso, é um ponto de encontro, de descanso, de abastecimento e de estacionamento.
Dali, ainda temos várias opções de pedal:
1 – subida do Cristo pelas Paineiras;
2 – subida do Sumaré;
3 – subida da Floresta da Tijuca até Bom Retiro; e
4 – subida da Vale do Céu.

Todas as subidas sempre com piso de asfalto antigo, mas em razoáveis condições, sempre protegidos pela Mata Atlântica e sempre com bastante água no caminho, além de vários pontos onde podemos apreciar a cidade do alto, tornando a pedalada segura e prazerosa.
A subida do Cristo pelas Paineiras começa logo depois do posto de combustível. É uma delicia, sem contar que somos brindados pela exuberante vista do Cristo Redentor no final. Quatro quilômetros após o inicio dessa estrada exite uma bifurcação: à direita vamos direto ao Crito e à esquerda subimos mais três quilômetros até o Sumaré.
Tanto na estrada que dá acesso ao Cristo, quanto na do Sumaré, podemos continuar descendo, chegando ao Bairro de Santa Teresa. Ou seja, podemos subir por uma e voltar pela outra. Sem contar que, desde Santa Teresa, chega-se facilmente e com segurança aos bairros do Cosme Velho, Laranjeiras, Gloria, Centro, onde alcançamos bem rápido o Aterro do Flamengo.

A subida do Bom Retiro começa na praça principal do Alto, passando pelo portão da sede do Parque Nacional da Tijuca. Logo no incio damos de cara com a Cascatinha Taunay, um lindo ponto turístico no Rio de Janeiro. É só seguir subindo, sempre dentro da mata, sempre com água abundante e com trânsito de veículos muito reduzido.
Nessa parte da Parque a segurança é aumentada pela presença de vigilantes de uma firma terceirizada.
Pedalando sempre na via principal, chega-se ao Bom Retiro (local onde começam as trilhas de caminhada do Pico do Papagaio e Pico da Tijuca). De lá descemos de volta ao Alto da Boa Vista, ou vamos até o Vale Encantado, cuja vista para a Barra é sensacional. O piso é de cimento e o trânsito de veículos é só de moradores.

Em qualquer desses caminhos, a sombra das árvores sempre nos acompanha.
Por incrível que pareça, muitos cariocas não conhecem esse paraíso.
Vem ao Rio? Traga sua bike

domingo, 30 de janeiro de 2011

As Serras do Estado do Rio de Janeiro (II)






Mangaratiba – Rio Claro

Uma ótima opção para quem busca um local diferente para pedalar é a subida da Serra do Piloto, através da estrada RJ-149, que liga Mangaratiba a Rio Claro. Esta estrada, de pouquíssimo movimento e pouco conhecida dos cariocas, começa no posto de gasolina ALE, às margens da Rio Santos, na entrada do município de Mangaratiba.
Após cerca de 3 km em asfalto, o piso fica de terra, mas sem muitas irregularidades, permitindo seu uso por qualquer veículo, que como disse, são pouquíssimos. Logo começamos a subir a serra, mas apesar dos quase 14 km de aclive ininterrupto, a pedalada é deliciosa, face ao pequeno grau de inclinação. Assim, com a subida bem lançante, a quilometragem avança com rapidez.
No km 7, já a 257 m de altitude, temos uma pausa quase que obrigatória, já que numa falha da vegetação, temos uma vista deslumbrante do vale por onde subimos, tendo ao fundo a cidade de Mangaratiba e a Baía da Ilha Grande. Um pouco mais acima, no km 8 e a 327 m de altitude, uma bica natural de água bem geladinha para dar uns goles, molhar a cabeça e fazer um “refill” da caramanhola. No km 9,7 com 367 m de altitude, encontramos uma pequena, porém sensacional cachoeira, mas nessa lugar a parada será na volta para um banho reparador, com um luxo de uma posição sentada natural, bem embaixo da queda d'água.
Mais adiante, no km 13,2 (420 m de altitude), chegamos no distrito de Serra do Piloto, um bairro afastado da civilização onde parece que o tempo parou. Há bares, mercadinhos, etc. Portanto, quem quiser água gelada, coca-cola, gatorade ou um alimento, esse é o lugar de reabastecimento. Há pousadas, cavalos para aluguel, ou seja um desses lugares calmíssimos da serra. E por isso ainda levei uma reprimenda da vendedora do mercado, onde fui comprar água, quando demonstrei preocupação com minha bicicleta que ficara lá fora.
não se preocupe moço, aqui não tem isso não....não tem mesmo!!!
Bom, como diz o ditado “gato que já levou tijolada não dorme em olaria”, preferi não perder minha magrela de vista.
Dentro dessa localidade, o piso é asfalto, que volta à terra assim que a deixamos. E continuamos nossa leve subida e aproximadamente no km 16 encontramos muitas máquinas, já que a estrada está sendo asfaltada. A altitude máxima é de 561 metros e num asfalto lisinho, com leves subidas e descidas, chega-se a Rio Claro a 432 metros de altitude.
Uma ótima opção é um delicioso banho de cachoeira. Aproximadamente 2 km após Serra do Piloto, pegar uma saída a direita e andar mais 3,5 km até a queda d'água.
Creio que quando o asfalto cobrir toda a estrada, infelizmente perderemos uma gostosa pedalada de MTB. Em compensação, será um paraíso para treinar subida, levando nossa speed para um banho de cachoeira.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Resolução do Contran sobre transporte de bicicletas






O Departamento Nacional de Trânsito anunciou a nova resolução que parece melhorar muito a vida de quem leva a bicicleta no teto. Uma delas é a oficialização da "segunda placa" na traseira, com algumas condições.

Clique aqui para você ter a nova resolução.
O Contran publicou uma portaria sobre transporte de cargas do lado externo dos veículos, com um capítulo especial sobre o transporte de bicicletas na traseira ou sobre o teto dos automóveis e caminhonetes, que entra em vigor em 90 dias.
A dica é que todos os ciclistas imprimem este edital e deixem guardado no porta luvas do seu carro caso venha ter algum problema.
www.denatran.gov.br/download/Resolucoes/RESOLUCAO_CONTRAN_349_10.pdf

RESOLUÇÃO N. 349 DE 17 DE MAIO DE 2010
Dispõe sobre o transporte eventual de cargas ou de
bicicletas nos veículos classificados nas espécies
automóvel, caminhonete, camioneta e utilitário.
O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO CONTRAN, usando da competência
que lhe confere o inciso I do artigo 12 da Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997, que institui o
Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e conforme o Decreto nº 4711, de 29 de maio de 2003, que
dispõe sobre a coordenação do Sistema Nacional de Trânsito,
Considerando as disposições sobre o transporte de cargas nos veículos contemplados
por esta Resolução, contidas na Convenção de Viena sobre o Trânsito Viário, promulgada pelo
Decreto nº 86714, de 10 de dezembro de 1981;
Considerando o disposto no artigo 109 da Lei nº 9503, de 23 de setembro de 1997,
que institui o Código de Trânsito Brasileiro - CTB;
Considerando a necessidade de disciplinar o transporte eventual de cargas em
automóveis, caminhonetes e utilitários de modo a garantir a segurança do veículo e trânsito;
Considerando a conveniência de atualizar as normas que tratam do transporte de
bicicletas nos veículos particulares.
Considerando as vantagens proporcionadas pelo uso da bicicleta ao meio ambiente, à
mobilidade e à economia de combustível;
RESOLVE:
Capitulo I
Disposições Gerais
Art. 1º Estabelecer critérios para o transporte eventual de cargas e de bicicletas nos
veículos classificados na espécie automóvel, caminhonete, camioneta e utilitário.
Art. 2º O transporte de cargas e de bicicletas deve respeitar o peso máximo
especificado para o veículo.
Art. 3º - A carga ou a bicicleta deverá estar acondicionada e afixada de modo que:
I- não coloque em perigo as pessoas nem cause danos a propriedades públicas ou
privadas, e em especial, não se arraste pela via nem caia sobre esta;
II- não atrapalhe a visibilidade a frente do condutor nem comprometa a estabilidade
ou condução do veículo;
III- não provoque ruído nem poeira;
IV- não oculte as luzes, incluídas as luzes de freio e os indicadores de direção e os
dispositivos refletores; ressalvada, entretanto, a ocultação da lanterna de freio elevada (categoria S3);
V- não exceda a largura máxima do veículo;
VI- não ultrapasse as dimensões autorizadas para veículos estabelecidas na Resolução
CONTRAN nº 210, de 13 de novembro de 2006, que estabelece os limites de pesos e dimensões para
veículos que transitam por vias terrestres e dá outras providências, ou Resolução posterior que venha
sucedê-la.
VII- todos os acessórios, tais como cabos, correntes, lonas, grades ou redes que
sirvam para acondicionar, proteger e fixar a carga deverão estar devidamente ancorados e atender
aos requisitos desta Resolução.
VIII- não se sobressaiam ou se projetem além do veículo pela frente.
Art. 4º Será obrigatório o uso de segunda placa traseira de identificação nos veículos na
hipótese do transporte eventual de carga ou de bicicleta resultar no encobrimento, total ou parcial, da
placa traseira.
§1° A segunda placa de identificação será aposta em local visível, ao lado direito da traseira
do veículo, podendo ser instalada no pára-choque ou na carroceria, admitida a utilização de suportes
adaptadores.
§2° A segunda placa de identificação será lacrada na parte estrutural do veículo em que estiver
instalada (pára-choque ou carroceria).
Capítulo II
Regras aplicáveis ao transporte eventual de cargas
Art. 5º Permite-se o transporte de cargas acondicionadas em bagageiros ou presas a
suportes apropriados devidamente afixados na parte superior externa da carroçaria.
§1° O fabricante do bagageiro ou do suporte deve informar as condições de fixação
da carga na parte superior externa da carroçaria e sua fixação deve respeitar as condições e restrições
estabelecidas pelo fabricante do veículo
§2° As cargas, já considerada a altura do bagageiro ou do suporte, deverá ter altura
máxima de cinqüenta centímetros e suas dimensões, não devem ultrapassar o comprimento da
carroçaria e a largura da parte superior da carroçaria. (figura 1)
Y≤ 50 cm, onde Y = altura máxima;
X ≤ Z, onde Z = comprimento da carroçaria e X = comprimento da carga.
Figura 1
Art. 6º Nos veículos de que trata esta Resolução, será admitido o transporte eventual
de carga indivisível, respeitados os seguintes preceitos:
I- As cargas que sobressaiam ou se projetem além do veículo para trás, deverão estar
bem visíveis e sinalizadas. No período noturno, esta sinalização deverá ser feita por meio de uma luz
vermelha e um dispositivo refletor de cor vermelha.
II- O balanço traseiro não deve exceder 60% do valor da distância entre os dois eixos
do veículo. (figura 2)
B ≤ 0,6 x A, onde B = Balanço traseiro e A = distância entre os dois eixos.
Figura 2
Art. 7º Será admitida a circulação do veículo com compartimento de carga aberto
apenas durante o transporte de carga indivisível que ultrapasse o comprimento da caçamba ou do
compartimento de carga.
Capítulo III
Regras aplicáveis ao transporte de bicicletas na parte externa dos veículos
Art. 8º A bicicleta poderá ser transportada na parte posterior externa ou sobre o teto,
desde que fixada em dispositivo apropriado, móvel ou fixo, aplicado diretamente ao veículo ou
acoplado ao gancho de reboque.
§ 1º O transporte de bicicletas na caçamba de caminhonetes deverá respeitar o
disposto no Capítulo II desta Resolução.
§ 2º Na hipótese da bicicleta ser transportada sobre o teto não se aplica a altura
especificada no parágrafo 2º do Artigo 5°.
Art. 9º O dispositivo para transporte de bicicletas para aplicação na parte externa dos
veículos deverá ser fornecido com instruções precisas sobre:
I- Forma de instalação, permanente ou temporária, do dispositivo no veículo,
II- Modo de fixação da bicicleta ao dispositivo de transporte;
III- Quantidade máxima de bicicletas transportados, com segurança;
IV- Cuidados de segurança durante o transporte de forma a preservar a segurança do
trânsito, do veículo, dos passageiros e de terceiros.
Capítulo IV
Disposições Finais
Art. 10 Para efeito desta Resolução, a bicicleta é considerada como carga indivisível.
Art. 11 O não atendimento ao disposto nesta Resolução acarretará na aplicação das
penalidades previstas nos artigos 230, IV, 231, II, IV e V e 248 do CTB, conforme infração a ser
apurada.
Art. 12 Esta Resolução entra em vigor noventa dias após a data de sua publicação,
ficam revogadas as Resoluções nº 577/81 e 549/79 e demais disposições em contrário.
Alfredo Peres da Silva
Presidente
Rui César da Silveira Barbosa
Ministério da Defesa
Esmeraldo Malheiros Santos
Ministério da Educação
Rudolf de Noronha
Ministério do Meio Ambiente
Elcione Diniz Macedo
Ministério das Cidades

domingo, 23 de janeiro de 2011

Travessia dos Andes 2011






Em meados de 2009, eu e alguns amigos ciclistas, todos de Nova Friburgo, combinamos de fazer, de bicicleta, a travessia da Cordilheira dos Andes, pela Estrada Panamericana. Começamos a estudar o trajeto através de imagens obtidas pela internet, analisando pormenores como altitude, distância entre os vilarejos no caminho, possibilidade de apoio mecânico, comunicação, etc.
O grupo inicial era formado por mim, Orlando Mielli Jr e Marcos Tulio Marques (dentistas) e Pedro Benevides (educador físico) e, depois de um consenso quanto ao apoio, resolvemos convidar um outro amigo (Marcos André) para ser nosso “motorista”, pois planejávamos alugar uma pick-up, que comportasse as bicicletas e toda nossa bagagem.
Ainda nessa época, fizemos contatos com a Revista Pedal, que se interessou em posteriormente publicar o relato e fotos da travessia. E como estímulo, mandou confeccionar uma camisa de ciclismo especial para o evento.
Estava tudo acertado para o inicio de 2010, quando uma semana antes da viagem, ocorreu o terremoto no Chile, adiando nossa aventura. E quando as coisas naquele país começaram a voltar ao normal, o verão já não era mais a estação climática, o que praticamente impedia que se realizasse naquela época.
Marcamos então para inicio de janeiro de 2011. Porém, o Marcos Tulio, numa peladinha de final de semana com familiares, rompeu o tendão de aquiles no meio do ano e como ele realmente desejava conhecer de perto a travessia e não daria tempo de recuperação total até janeiro, que o permitisse voltar aos treinamentos para a dura jornada, sem contar que já tinha pago toda a viagem, resolveu ser, ele mesmo, ser o nosso “motorista”. Com isso o Marcos André foi “desconvidado” e entrou em seu lugar outro ciclista, uma mistura de mineiro de Uberrrrlândia e Nova Friburgo, Rodrigo Zamunaro.
Saímos do Rio de Janeiro no dia 8 de janeiro pernoitamos em Santigo do Chile. Já com a pick-up alugada, partimos para Mendoza com as bicicletas já montadas e nossas roupas. Como ficaríamos no mesmo hotel no final da viagem, antes do nosso retorno ao Rio de Janeiro, conseguimos deixar todas as malas-bikes, guardadas o que aliviou tremendamente o volume da bagagem. Chegamos em Mendoza no mesmo, após claro, no deliciarmos com a paisagem dos Andes, que iríamos percorrer pedalando nos dias seguintes.
1° DIA DE PEDAL
Na programação sairíamos pedalando de Mendoza. Porém, observamos que a Ruta 5, uma autoestrada que liga Mendoza ao sul da Argentina, tem um movimento bastante intenso e de veículos pesados. Além disso, não tem acostamento pavimentado em quase todo o percurso (é de brita) o que nos faria disputar com os veículos a rodovia, deixando a pedalada perigosa e sem qualquer prazer. Por isso, começamos em Lujan del Cuyo (altitude 951 m), quase no início da Ruta 7, a Rodovia Panamericana, que atravessa os Andes em direção ao Chile.
Cabe lembrar que esta rodovia não tem acostamento e possui um movimento de carretas grandes de escoam a produção do sul do Brasil e da Argentina, rumo ao Chile e ao porto de Valparaíso, no Oceano Pacífico, além de muitos carros e motos. No entanto, durante todo o trajeto, os veículos sempre ao ver ciclistas, via de regra vão lá na contramão, como se estivéssemos ocupando uma faixa normal de rolamento, fazendo com que não contabilizamos um susto sequer. E tivemos muitos e longos períodos sem qualquer circulação de veículos, fazendo com que o som da nossa corrente e dos nosso pneus rolando no asfalto, fossem os únicos a se juntar ao vento e ao nosso movimento respiratório.
Nossa primeira parada era na localidade de Villa Potrerillos, um pequeno vilarejo a 1400 metros de altura, às margens de um lago azul turqueza, reprezado artificialmente por uma barragem o Rio Mendoza, que aliás, seria nosso companheiro durante quase toda a travessia. O hotel que tínhamos reservado era o Pueblo Del Rio, 10 km adiante, às margens do Rio Mendoza, formado por um conjunto delicioso de charmosos chalés.
A pedalada no início era quase plana, passando por inúmeras vinícolas às margens da rodovia e sempre com a Cordilheira dos Andes na nossa frente, a qual íamos conquistando lentamente, pedalada a pedalada. E a medida que íamos subindo a paisagem ia se modificando, acabando as parreiras que dava lugar à certa aridez das montanhas. No entanto, o visual era cada vez mais cativante e a todo momento, parávamos para fotos, pois a paisagem dos Andes é algo muito impressionante e nos transforma e grãos pequeninos.
Desde a fase de preparação, nosso plano era fazer a pedalada mais contemplativa possível, dosando mais o ritmo e curtindo mais o visual. E mesmo que quiséssemos apertar o ritmo, a paisagem não nos deixaria. Portanto, as paradas para fotos eram frequentes, que se somaram às centenas de fotos tiradas pelo nosso “motorista” Marcos Tulio, incansável em todo o percurso.
Mais uma vez eu era o mais velho da turma ,57 anos contra os 47 do Orlando, 35 do Rodrigo e 23 do Pedro (sem contar no ciclista-motorista Marcos com 43). Tal fato não me permitiria acompanhá-los se apertassem o ritmo, mas pedalamos algum tempo juntos, quando os dois mais jovens “escapavam”. O Orlando sempre foi meu “gregário”, pois ficamos juntos o tempo todo e sempre que dava, eu pagava um pouco de carona no seu vácuo. Mas posso afirmar que não sentimos os quase 700 metros de desnível desde Luyan del Cuyo até Potrerillos.
Resumo do primeiro dia: total pedalado – 56,46 km
total de subidas (acumulada) – 1092 m
total de descidas (acumulada) – 575 m
total pedalando – 2h 54 min – média 19 km/h.
Altitude local – 1454 m
Cabe lembrar, como se vê no resumo, que temos durante todo o percurso, mesmo na parte mais alta da montanha, algumas descidas, que nos proporcionam um descanso às pernas.

2° DIA DE PEDAL

Saímos do Hotel Pueblo Del Rio e continuamos nossa programação, cujo destino do segundo dia era a cidade de Uspallata. O percurso é muito mais bonito do que no dia anterior, a temperatura ia ficando cada vez mais amena, embora a ausência total de nuvens, nos deixava à mercê do sol e radiação UV, que aliás foi constante durante toda a viagem. Se por um lado a paisagem ficava mais bonita devido ao céu extremamente azul em contraste com as montanhas, algumas ainda encobertas pela neve, por outro lado os cuidados com a pele não poderiam ser negligenciados. Dessa forma, generosas camadas de filtro solar eram aplicadas.
A pedalada desse dia foi muito prazerosa e mais uma vez não sentimos que estávamos cada vez mais altos. A cidade de Uspallata tem uma infraestrutura própria, como qualquer cidade turística, embora seja pequena. Muitos hotéis, mercados, lojas, postos de gasolina, restaurantes, etc. Muito voltada ao turismo, pois se durante o inverno é um centro de esportes na neve, no restante do ano, se dedica ao rafting, montanhismo, andinismo, mountain-bike, etc. Apesar dessa estrutura, não conseguimos reserva em nenhum bom hotel, razão pela qual voltamos para nosso aconchegante chalé Pueblo del Rio, sempre conduzidos pelo nosso amigo Marcos. O Rodrigo resolveu voltar pedalando, mas chegou lá meio cansadinho, pois pegou vento contra.
Resumo do segundo dia: total pedalado – 52,3 km
total de subidas – 681 m
total de descidas – 259 m
total pedalando – 1 h 58min – média 20,8 km/h
Altitude local – 1890 m.

3° DIA DE PEDAL

Sem dúvida o melhor dia de pedal da viagem. Embora o percurso programado era maior, com destino em Los Penitentes, o visual da montanhas cada vez mais altas e o enorme vale por onde passa a estrada e por onde corre o Rio Mendoza, deixava a paisagem tão impressionante, nos transformando em diminutos seres serpenteando pela estrada, deixando à mostra toda a nossa pequenez existência, o que nos proporcionava um imenso prazer sobre a bicicleta e não nos deixando perceber as enormes subidas.
Nesse dia, passamos por muitos túneis, sempre na ponta de uma escarpa que nos deixava tontos para olhar para cima. Esses túneis, e são muitos durante o trajeto, são curtos, mas representam, ao meu ver, o maior perigo à travessia de bicicleta de toda a estrada, já que não tem qualquer área de escape. Por isso, antes de atravessá-los sempre olhávamos nas duas direções para ver se não teríamos companhia das enormes carretas. Durante toda a estrada, se precisássemos, teríamos um acostamento de brita como área de fuga, o que não acontece nos túneis. Além disso, devido à extrema e exótica beleza que proporcionam, na base de montanhas altíssimas, podem tirar um pouco a concentração. Por isso, sempre gritávamos uns para os outros, no intuito de verificar a presença das carretas.
No trajeto de Uspallata até Los Penitentes temos apenas e tão somente a presença das montanhas. Não tem casas, água, comunicação ou qualquer apoio, exceto no km 55,6 em Puente de Vacas. Portanto, o ciclista sem apoio de um veiculo deve ter em mente que vai pedalar no meio do “nada” durante quase 56 km.
Em Puente de Vacas, paramos numa birosquinha na beira da estrada e bebemos água e refrigerantes. Muito caros, mas devido à nossa carência por carbohidratos, tornaram-se baratos.
Durante todo o percurso tivemos vento traseiro nos empurrando montanha acima. E como num passe de mágica, a partir do bar, o vento se tornou contra. E cada vez mais forte. E cada vez tornando a pedalada menos prazerosa. E chegamos a Los Penitentes já cansados de subir montanha com vento contra, que tinha rajadas que quase derrubou dois de nós.
O Marcos nos esperava em Los Penitentes, onde eu eu Rodrigo colocamos a bicicleta sobre a Pick-up. Mas como tínhamos decidido abortar a subida final dos Andes, de Los Penitentes à Las Cuevas, que fica quase na fronteira com o Chile, pois o trajeto muito curto (cerca de 23 km), em troca de uma visita ao Parque do Aconcágua, o Orlando e o Pedro, decidiram pedalar mais 8 km mesmo com o ventão contra e encerrar o dia em Puente del Inca.
Dormimos em Los Penitentes. É bom lembrar que o Hotel Ayelen (creio que único no local), embora lotado de montanhistas não pode ser encarado como confortável. É apenas uma hospedaria que abriga mochileiros em busca das montanhas dos Andes (no inverno fica lotado de esquiadores já que lá funciona uma estação de esqui).
Resumo do terceiro dia: total pedalado – 63,3 km
total de subidas – 1386 m
total de descidas – 671 m
total pedalando – 4 h 32 min – média de 15,6 km/h
Altitude Local – 2601 m


No dia seguinte não pedalamos, mas fizemos uma grande caminhada pelo Parque Provincial do Aconcágua. Qualquer que seja a construção das frases sobre esse passeio, jamais representariam a beleza do local. É realmente deslumbrante.
Depois do passeio, entramos no carro e fizemos os trâmites burocráticos, chatos, demoradíssimos e incompreensíveis devido ao Mercosul, que ao que tudo indica, união só no papel. A seguir nos dirigimos ao Hotel Portillo, uma elegante estação de esqui chilena, situado bem pertinho da fronteira, a 2870 m de altitude.
Durante o verão o hotel fica fechado, só funcionando o restaurante e só abrindo hospedagem nos chalés, ficando todo o grande prédio principal em reforma para abrigar os esquiadores no inverno, sempre contando, inclusive, com equipes de esqui do hemisfério norte, que vão à Portillo manter o treinamento durante os meses de verão em seus países. O chalé, voltado para um lago, dá vontade de nunca mais sair de lá!!!

4° DIA DE PEDAL

Saimos de Portillo, sabendo que teríamos pela frente uma descida constante de ingrime. Logo nos primeiros quilômetros, encontramos os “caracoles”, uma sucessão de 29 curvas de 180°, fazendo a altitude despencar e todas a inúmeras vezes que parávamos para tirar fotos, pois a beleza é imensa, sempre pensávamos em nos livrar das roupas que vestimos para iniciar a pedalada no frio de Portillo. Assim, casados, corta-ventos, manguitos, toucas, etc, foram enchendo os bolsos traseiros da nossas camisas.
Depois de algum tempo, a partir do momento que as montanhas vão se acabando e a temperatura subindo, a pedalada perde um pouco (se não muito) o prazer. Mas nossa programação era pedalar até o Pacífico, na cidade de Vina del Mar, mas quando os Andes ficaram para trás, ainda tínhamos 170 km pela frente, embora ainda desceríamos dos nossos 800 metros de altitude rumo ao nível do mar. Então, vamos seguir a programação!!!
Porém, as estradas chilenas (ruta 60 – que liga os Andes a Vina del Mar) são boas......PARA CARROS!!!. Não têm acostamento pavimentado e têm um fluxo de veículos grande. Isso aliás, foi um erro que cometi no planejamento, pois pelas imagens que eu obtive pela internet, tais estradas pareciam muito mais amistosas do que na realidade.
Mas fomos em frente, porque o programado era chegar no mar. Mas o calor intenso e os constantes sustos que tomávamos devido ao tráfego de veículos mudaram minha decisão e lá pelo km 100 da pedalada, me rendi e subi no carro. O Orlando me acompanhou. O Rodrigo e o Pedro resolveram continuar, apesar do vento forte, contra.
Mais adiante o Pedro resolveu também subir no carro. Como o Rodrigo continuou, eu e o Orlando decidimos acompanhá-lo e chegamos ao Oceano Pacífico, na cidade de Concon.
Todos pedalamos nesse dia cerca de 140 km, exceto o Rodrigo, que fez todo o trajeto e percorreu os 190 km.
Numa próxima oportunidade, me hospedo em Portillo, desço os caracoles, pedalo até Los Andes e subo no carro!!! Em compensação, faço a pedalada de Los Penitentes até Las Cuevas, mas sempre lembrando que o vento por lá costuma ser contra e forte.

Descansamos um dia em Vina del Mar e no dia seguinte, com as bicicletas sobre a pick-up, nos dirigimos para o nosso último dia de pedal, a subida do Valle Nevado.

5° DIA DE PEDAL

Começamos em Las Condes, distrito vizinho a Santiago. A subida é longa e numa estrada de pouco movimento, sendo que a partir do quilômetro 12, aproximadamente, tomamos a estrada que nos leva apenas para Farellones e Valle Nevado, com movimento de carros muitíssimo reduzido. Como dito, a subida é longa, dura, mas a paisagem, subindo novamente os Andes, nos faz esquecer um pouco o cansaço. No entanto, quando começamos as curvas em 180° e são muitas, a inclinação não é grande. Dessa forma, a subida lançante torna a pedalada prazerosa. Só não devemos olhar muito para cima, pois se identificarmos as casas de Farellones, minúsculos pontos na montanha, vai ser fácil nos sentir impotentes para vencer tamanho desnível. E dessa vez, quase não temos descidas para descansar.
No entanto, após um longo tempo de pedal, chegamos ao Valle Nevado, tendo o prazer da chegada suplantado em muito o cansaço.
Um fato importante é que durante todo o trajeto, não há uma gota de água para nos reabastecer e não há uma birosquinha sequer para comprar alguma coisa. Portanto, quem quiser se aventurar, tem que ter em mente que deve levar alimentos, carboidratos e levar muita, mas muita água, já que o clima seco nos faz beber muito mais água do que o habitual.
Resumo do quinto dia: total pedalado – 44,6 km
total de subidas – 2390 m
total de descidas – 246 m
total pedalando – 4h 43 min. - média de 9,5 km/h
Obs.: o Rodrigo e o Pedro fizeram em 3 h e 50 min de pedal.
Atitude no início da pedalada – 880 m
Altitude do Valle Nevado - 3025 m

RESUMINDO:
Uma aventura singular e que já me dá vontade de repeti-la. Devemos lembrar entretanto, de algumas coisas:
protetor solar (para pelo e lábios) muito importante;
na parte alta da montanha temos frio, mesmo no verão. Assim temos que levar roupas de manga comprida, manguitos, pernitos, corta-ventos, etc.;
no alto dos Andes, geralmente o vento é contra e forte (para quem se dirige ao Chile);
quem quiser alugar carro no Chile e atravessar a fronteira da Argentina, não esquecer de solicitar autorização para isso (sem ela nada feito!). E as locadoras cobrar 120 dólares por isso!!!;
na subida do Valle Nevado sem corro de apoio, sugiro um kamelback dos grandes e mais duas caramanholas de água, sem contar em comida;
leve a menor quantidade de roupas possível, pois não teremos tempo para usá-las. E lembrar que o limite de bagagem Brasil – Chile é de somente 23 kg. Portanto, uma malabike quase atinge isso. E a Lanchile é rigorosa em cobrar excesso. Dessa forma, o segredo é ter uma mala de mão grande o suficiente para caber nossa roupa e que atenda ao tamanho máximo para bagagem de mão.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

As Ciclovias Cariocas






AS CICLOVIAS DA CIDADE MARAVILHOSA


O município do Rio de Janeiro é, sem dúvida, o que possui a maior malha cicloviária dentre as cidades brasileiras. E não faltam investimentos públicos no projeto de novas ciclovias e na conservação das já implantadas, além de farta propaganda incentivando o uso da bicicleta no dia-a-dia. Até o prefeito atual, Eduardo Paes, tem ido uma vez por semana ao trabalho usando como meio de transporte a sua magrela, nunca esquecendo de divulgar tal fato. E foi criado recentemente, tentando seguir os passos de Paris, um sistema de aluguel de bicicletas automatizado para uso em pequenos trajetos, em múltiplas estações estrategicamente distribuídas. Porém, por fatores que envolvem educação da população, problemas sócio-econômicos, entre outros, tal serviço ainda engatinha e claudica por causa de furtos constantes dos equipamentos.
Empresas privadas também investem no uso da bicicleta, como por exemplo, a Sul América Seguros, que construiu inúmeros bicicletários por toda a cidade.
Enfim, morar ou vir à cidade do Rio de Janeiro dá a certeza da possibilidade imensa do uso da bicicleta para laser, esporte ou como meio de transporte. Podemos atravessar quase toda a orla marítima sobre a magrela, passando por uma volta na Lagoa Rodrigo de Freitas. Na Barra da Tijuca são duas ciclovias paralelas, uma à beira-mar e outra que vai por dentro, pela Av. das Américas. Em todas elas, há ramificações que adentram os bairros vizinhos, como Ipanema, Leblon, Jacarepaguá, Gávea, Botafogo, Flamengo, etc. Tudo isso sem contar na imensa beleza que nos brinda tal passeio pela orla. A que vai até o Recreio, então nem se fala, pois passa pela reserva biológica o que torna a pedalada um imenso prazer. E ainda temos as ciclofaixas. A mais charmosa é a que liga o bairro do Jardim Botânico à Floresta da Tijuca, passando pela Vista Chinesa e Mesa do Imperador, podendo-se chegar ao Cristo Redentor, numa ascensão de quase 800 metros e com uma vista estonteante no final. Essas subidas são muito usadas por ciclistas em busca de treinamento e laser, já que possuem tráfego de veículos muito reduzido e que quase todo o percurso é feito dentro da Mata Atlântica com cachoeiras e muito oxigênio.
Só teríamos coisas boas a falar, não fosse a falta de educação de parte da população que se nega a evoluir e a respeitar as ciclovias como um enorme patrimônio ao bem estar de todos. Na orla é muito comum ver pessoas caminhando lentamente por elas, enquanto a calçada ao lado fica vazia. A ciclovia que liga o bairro da Freguesia, Jacarepaguá, à Barra da Tijuca, atravessa uma área comercial repleta de oficinas e borracharias, quase não é percebida em alguns trechos, pois os carros ficam estacionados e produtos são expostos sobre ela.
Nas fotos vemos o mapa cicloviário da cidade do Rio de Janeiro, a beleza das ciclovias e o desrespeito às mesmas.
O saldo é muito positivo, com forte tendência de melhorar ainda mais.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

As Serras do Estado do Rio de Janeiro (I)






AS SERRAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ( I )

O Estado do Rio de Janeiro possui uma grande variedade de estradas que sobem as serras fluminenses proporcionando boas pedaladas não só para treinos visando melhorar o desempenho em subidas, como também para passeios mais exigentes que mantêm uma boa forma física. De brinde ganhamos paisagens belíssimas, água potável geladinha em muitos pontos e até algumas cachoeiras que podem nos refrescar no final.
No intuito de manter um banco de dados sobre essas subidas, comecei a traçar todos os perfis altimétricos que, junto com alguns detalhes do percurso, certamente auxiliarão futuros interessados. Para isso, vou me concentrar em itens como estado do piso, tráfego de veículos, existência (ou não) e qualidade dos acostamentos, segurança, necessidade e apoio, etc.

SUBIDA DA SERRA DE NOVA FRIBURGO

A estrada Rio-Friburgo na realidade são duas: a BR – 101 e, a partir de Itaboraí, a RJ – 116. Esta última atualmente está sob concessão da empresa Rota 116 o que já intui uma boa conservação. A estrada possui acostamento com regular qualidade, já que em boa parte do percurso o asfalto é lisinho, porém há vários trechos onde se encontra piso bastante irregular e até buracos que são causados por veículos rurais em suas várias saídas. Além disso, foram colocados olhos-de-gato de tamanho grande a cada 500 metros, aproximadamente, visando reprimir o uso do acostamento pelos veículos, o que nos obriga a manter constante atenção no piso. O tráfego não é muito intenso mas há linhas de ônibus e principalmente carretas que transportam cimento que, somado à falta de acostamento em algumas poucas pontes no trajeto, não nos permite ficar desligado em relação à nossa segurança.
Minha sugestão é iniciar a pedalada em Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu. Nesta localidade há muitos pontos seguros para estacionar o carro e na volta, algumas lanchonetes e uma padaria favorecem um bom lanche. Serão então 22 km de pedal praticamente no plano até a sede do município. A travessia da cidade de Cachoeiras de Macacu é bem tranqüila, pois se trata de uma localidade bem pequena. Assim que termina a área urbana, passamos pela Lanchonete Riviera, que marca o inicio da subida da serra. Caso o interesse da pedalada seja apenas a subida é nessa lanchonete que devemos estacionar o carro, pois há uma ampla área de estacionamento e possibilidade de um bom lanche na volta.
Até o topo da serra serão 23 km de subida ininterrupta. Nos primeiros quilômetros, ainda passamos por algumas casas e sítios nas margens da rodovia, no bairro rural de Boca do Mato, mas após a praça do pedágio, temos a companhia apenas da Mata Atlântica, tornando a pedalada muito prazerosa. Durante todo o trajeto contamos com acostamento largo o que aumenta a segurança do ciclista. O piso porém, não é muito bom em muitos trechos, com muitas irregularidades, que não chega a atrapalhar na subida, devido à baixa velocidade, mas a descida é muito desconfortável e nos obriga a usar a pista de rolamento, que é boa. Por isso, temos que estar sempre atentos ao tráfego de veículos.
Há muitos pontos onde podemos nos abastecer de água potável geladinha da montanha em diversas bicas rústicas, mas durante toda a subida não há qualquer estabelecimento comercial. Como eu disse é só a floresta com sua generosa porção de oxigênio e os carros e caminhões que passam sem nos incomodar. Por isso, já que tal percurso é realizado entre uma ou duas horas, dependendo do ritmo de cada um, levar alguma alimentação (barras de cereais, sachês de carbohidatos) se torna necessário e não esquecer o kit de remendo para eventuais furos de pneu. Nos três quilômetros finais já não temos tanta sombra, em compensação temos um lindo visual.
Exceto nos meses de verão, um corta-vento é muito necessário na descida, pois o frio se faz presente, principalmente em áreas muito sombreadas e com vegetação mais densa.
Até hoje nunca houve um caso de roubo de bicicletas no local, que é muito freqüentado por ciclistas da região e até mesmo de cidades mais distantes como o Rio de Janeiro, por ser uma excelente opção para treinos.
Face ao exposto, não há necessidade de carro de apoio, devendo-se lembrar de que teremos 22 km sem qualquer recurso comercial, mas por se tratar de uma rodovia sob concessão, nunca estaremos sozinhos, já que carros da empresa que administra a estrada circulam o tempo todo.
O trecho Papucaia – topo da Serra de N. Friburgo já foi palco por duas edições do GP Rota 116 (www.escaladaserramar.com.br), competição de ciclismo patrocinada pela empresa concessionária da estada, Rota 116.


RODOVIA FRIBURGO – TERESÓPOLIS

Esta rodovia, a RJ – 122, pode ser considerada um “Nirvana” para o ciclismo: asfalto liso, acostamento largo, tráfego de veículos bem reduzido, ausência quase absoluta de carretas, clima ameno e um visual lindíssimo. Isso tudo num trajeto de 69 km, com muitas subidas e descidas curtas, mas que dão um “tempero” nos treinos e com vários pequenos distritos tanto de Nova Friburgo quanto de Teresópolis (Campo do Coelho, Vieira, Bonsucesso, Venda Nova), que nos dão inúmeras possibilidades de alimentação, hidratação e até apoio mecânico. Só não contamos com acostamento nos 16 km finais da estrada (chegando a Teresópolis), quando devemos ter mais atenção aos veículos, ou retornar para Friburgo.
Considero ser um ótima opção para um final de semana: reunir um grupo legal ou ir com a família, subir a serra no sábado, dormir num dos muitos bons hotéis de Nova Friburgo, aproveitando a boa gastronomia local para jantar e fazer a estrada Friburgo – Teresópolis no domingo. Aliás, a mulherada vai adorar, pois na entrada da cidade se localiza o pólo de moda íntima, onde as muitas confecções lá localizadas possuem suas lojas de fábricas, com farta variedade e preços convidativos.


ESTRADA SERRAMAR


Outra ligação da BR-101 com o município de Nova Friburgo é a estrada Serramar (RJ – 142), uma recém asfaltada rodovia, que começa no município de Casemiro de Abreu e sobe a Serra do Mar margeando boa parte do tempo a descida da montanha do rio Macaé, proporcionando um visual belíssimo.
A estrada alcança o distrito de Lumiar (Nova Friburgo) no km 35,7 e continua subindo por mais 16 km e é talvez a mais longa ascensão asfaltada ininterrupta do Brasil, num total de 52 km. (Que super treino de subida, hein!!). Aliás, ali também acontece uma competição de ciclismo anual muito legal, a Escalada Serramar (www.escaladaserramar.com.br).
O asfalto novinho e o tráfego de veículos muito reduzido proporcionam uma pedalada muito gostosa. Porém, não contamos com acostamento em nenhum momento, o que nos obriga a ficar bem atentos aos movimentos dos motoristas. E aqui também não contamos com estabelecimentos comerciais. Portanto, devemos levar algo para repor as energias gastas e água. Outra diferença da RJ – 116 é que, por não ter uma empresa que administra a estrada, o apoio para problemas mecânicos maiores é remoto e em de algum acidente, poderemos ficar numa “roubada”. Por isso, não considero uma boa opção pedalarmos sozinhos por essa estrada.


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Toda essa região serrana é repleta de hotéis e pousadas excelentes, além de muitos restaurantes das mais variadas tendências gastronômicas. Portanto é uma excelente opção para um treino de final de semana prolongado ou um bom programa com outros amigos ciclistas, subir as duas estradas e aproveitar um dia a RJ - 122. E não é só um programa para ciclistas, pois há muito que se fazer e muito que visitar no município. Portanto, pode ser um programa familiar.
Aliás, o município de Nova Friburgo tem uma vocação muito grande para o ciclismo de todas as modalidades, pois há muitos lugares para se pedalar. No Mountain Bike há uma enorme diversidade de estradas vicinais e trilhas, para os mais variados níveis de pedal. Por isso a cidade tende a se tornar até mesmo um pólo nacional, pois possui todos os ingredientes para atrair ciclistas que buscam treinamento ou lazer (hotéis, restaurantes e toda a infra-estrutura turística necessária). Além disso, competições de ciclismo de estrada e MTB de muito bom padrão e com ótima organização vêm acontecendo com freqüência, como a já tradicional Montanha Cup (www.montanhacup.com.br) o que deve elevar a quantidade de admiradores da cidade.

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SUBIDA DA SERRA DE TERESÓPOLIS


A estrada Rio – Teresópolis é muito utilizada para treinamentos de ciclistas e tri-atletas, principalmente aos sábados pela manhã, quando é possível ver enormes pelotões coloridos desfilando nos acostamentos. Normalmente o pessoal que vai do Rio de Janeiro faz o retorno exatamente antes do pedágio e estaciona num posto de gasolina bem pertinho, que fica lotado de atletas. Como começam a pedalar às 7 da manhã, chegar lá perto desse horário vai ter problemas para estacionar. Os ciclistas são muito bem-vindos no posto, pois os donos instalaram chuveiros para o banho após o treino, os banheiros são limpinhos e na lanchonete, sempre tem tudo que é necessário para repor as energias gastas.
Até o inicio da subida da Serra de Teresópolis são 30 km quase totalmente plano, com acostamentos largos, piso em boas condições e o tráfego de veículos embora intenso, não prejudica o treino. Portanto a ida e volta corresponde a 60 km. Porém, há retornos com viadutos a cada 10 km aproximadamente, permitindo que se escolha a distância ideal para o dia, sempre múltiplos de 10. Além disso, há ainda a possibilidade de se fazer treino conjugado com a distância mais conveniente de subida.
A subida propriamente dita começa em Guapimirim (veja a altimetria) e são 18 km de ascensão ininterrupta, sempre com acostamento largo e piso de ótima qualidade. Não há, entretanto, um bom sombreamento de árvores, tornando a pedalada desconfortável sob sol intenso e nos meses mais quentes do ano. Em compensação o visual é belíssimo, pois a partir da metade da subida, temos uma boa visão da baixada de Guapimirim, com a Baía de Guanabara ao fundo e as imponentes montanhas da Serra dos Órgãos à frente.
Durante o trajeto são muito raros os estabelecimentos comerciais, exceto no km 12, onde há um posto de gasolina com uma lanchonete. Porém, água potável da montanha pode ser conseguida em muitas bicas rústicas.
No topo da serra, lugar conhecido como Soberbo, a vista é magnífica, a foto com o Dedo de Deus ao fundo uma “obrigação” e vários quiosques vendem água de côco e caldo de cana.
A descida, no entanto, requer bem maior cuidado porque o acostamento é estreito (praticamente inexistente em alguns trechos e nas pontes) e o tráfego de veículos, inclusive carretas, é intenso. Um corta-vento é necessário na descida, exceto no verão. Mas nessa estação do ano, se a pedalada for programada para a tarde, prepare-se para um bom banho de chuva.
Esta rodovia está sob concessão da empresa CRT. Portanto, tal qual a subida da serra de Friburgo, viaturas de apoio estão sempre circulando. Além disso, há vários telefones para emergência durante todo percurso. Por isso, mesmo que estejamos subindo sozinhos, nunca nos sentiremos desamparados, razão pela qual não é necessário carro de apoio.

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Deixei propositadamente de citar a Serra de Petrópolis por dois motivos:
- a subida não tem acostamento e com a quantidade absurda de carretas, além da quantidade também muito grande de carros, torna a pedalada muito perigosa e, no meu ponto de vista, inviável; e
- a pista de descida, mais moderna, tem acostamento, mas pedalar no contra-fluxo alem de perigoso é desconfortável, sem contar que é contra a lei, já que a bicicleta tem que obedecer ao Código Nacional de Trânsito.

Deixei também de citar a subida da Estrada Velha de Petrópolis, que poderia ser realizada por bicicletas MTB, face ao piso muito irregular e com muitos trechos em paralelepípedos, porque passa por muitas comunidades carentes e não considero seguro para a nossa magrela.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

L'etape du Tour de France 2008






L’Etape do Tour de France

O continente europeu é certamente o lugar onde vemos o uso da bicicleta com maior interferência (positiva) na vida do cidadão. Em muitas cidades (por exemplo, Amsterdam) as ciclovias estão presentes em quase todos os bairros e, mesmo nos meses frios, vemos as pessoas circulando pela cidade para trabalhar, passear e fazer compras, pois é muito comum bicicletas com cestos para cargas pequenas e os bicicletários estão presentes em quase todas as esquinas, estabelecimentos comerciais e públicos.
O que impressiona muito é o respeito que pedestres e principalmente motoristas em seus bólidos têm pelos ciclistas. Em Paris, aluguei várias vezes as super-práticas bicicletas de aluguel (VELIB) e lá se pedala em todos os cantos, mesmo onde não há ciclovias e compartilhamos as ruas com os automóveis. Uma vez eu estava numa avenida de grande movimento (a famosa Champs-Elisées) e precisava cruzá-la para dobrar à esquerda. Sinalizei com o braço e tive caminho livre com os carros diminuindo a marcha, me dando passagem. Logicamente fiz isso após observar atitudes semelhantes dos locais. É sensacional! Como também é sensacional ver os ciclistas observar plenamente as leis de trânsito. Não tem como não me espantar ver um ciclista parar ao sinal vermelho, às 2 da manhã, sob uma garoa fria. E não foi uma exceção, isso é a regra.
Quando estive na Espanha para fazer o Caminho de Santiago, resolvi fazer um desvio e utilizei uma estrada asfaltada de mão dupla durante alguns quilômetros. Aquela mesma rotina: asfalto lisinho, acostamento largo e sinalização perfeita. Causou-me espanto que os carros no mesmo sentido me ultrapassavam lá pela outra pista, como se eu estivesse na pista normal de rolamento. Após perceber tal atitude, passei a observá-los com mais atenção: quando se aproximavam de mim, acionavam a luz de direção, passavam para a contramão e voltavam a sinalizar para retornar à pista normal. Isso tudo mesmo se eu estivesse ocupando a parte do acostamento mais distante possível da estrada. Um deles repetiu o procedimento padrão, mas como vinha um carro em sentido contrário, reduziu a marcha e só me ultrapassou (lá pela contramão) quando o outro veículo passou.
Na Alemanha não é diferente. Uma vez conversei com um motorista que me cedeu a passagem de forma acintosa, que me disse a razão do seu enorme respeito. Primeiro que também usa muito sua bicicleta, principalmente em pequenos trajetos e tem plena consciência do quanto é bom esta atividade para a nossa qualidade de vida. E que as leis de trânsito são tão rigorosas e as penalidades são tão altas que o que ele menos quer na vida é atropelar um ciclista.
Conclusão: sinto uma enorme inveja disso!

Não se pode pensar em ciclismo sem mencionar as grandes voltas européias. As mais charmosas e mais badaladas são o Tour de France e o Giro d’Italia. São competições profissionais com duração de quase um mês, com grande cobertura da mídia e que aglutinam uma quantidade para nós absurda de pessoas pelos lugares por onde passam, que vão às ruas ver, torcer e incentivar os atletas coloridos pelos uniformes da várias equipes, sem contar nas milhões de pessoas que assistem pela TV as provas ao vivo.
A organização dessas duas “voltas” no intuito de saciar o desejo dos milhares de ciclistas amadores espalhados mundo afora organiza uma etapa só para eles, com o mesmo percurso realizado pelos profissionais. Assim, alguns dias antes desses, e enquanto estão em outra localidade, as ruas, estradas e montanhas são invadidas pelos aficionados anônimos que, ao invés dos altos salários e a enorme estrutura das equipes, viajam milhares de quilômetros e ainda pagam para pedalar. E se estamos acostumados a achar que uma prova ciclística por aqui está muito concorrida com 1000 atletas, essas etapas, esgotam em menos de uma semana as 9000 vagas disponíveis.
Durante uma pedalada por algum dos muitos belos percursos de Nova Friburgo, em meados de 2007, um amigo, o dentista e ciclista Orlando Mielli (atualmente diretor de maratonas da Federação de Ciclismo do Rio de Janeiro) me propôs:
- queria te fazer uma proposta indecorosa: vamos ao l’etape do Tour ano que vem?
Bem, não foi exatamente uma proposta indecorosa, pois eu já tinha vontade de ir. Por isso topei na hora.
Daí em diante começamos a procurar as empresas que agenciam os interessados. Hoje em dia (posso estar enganado!) são duas Agencias de Turismo que conseguem pré-reserva de vagas para brasileiros na inscrição: a Kamel Turismo (RJ) que leva os ciclistas liderados por Walter Tuche e a Tambaú Turismo, cujos atletas vão sob a liderança de Cleber Anderson (Anderson Bicicletas – SP). Fizemos a pré-incrição, já sabendo que a etapa começaria em Pau, no sul da França e terminaria no alto da Hautacam, passando pelo majestoso, mítico e temido Tourmalet (ambas as montanhas fora de classificação – hors serie), num total de 169 quilômetros.
A inscrição foi só o inicio de tudo. Era preciso treinar, treinar e treinar. Mais do que eu já pedalava. Eu já era aluno da Rio Saúde, assessoria esportiva do Roberto Tadao (Dum), portanto, relatei meu objetivo para o ano que viria e meu treinamento foi direcionado para julho de 2008, exatamente no dia 6, quando eu deveria estar pedalando pelos Pirineus. O Orlando contratou a assessoria do Alan Inoue, o Japa (Nova Friburgo) e também passou a receber as planilhas para treinamento.
E foi o que fizemos: pedalar, pedalar e pedalar. Nas horas vagas trabalhar , para poder continuar “patrocinando” nosso hobby.
Já em abril de 2008, após milhares de quilômetros pedalados, tive uma pedra, aliás, uma pedreira no caminho: dengue hemorrágica. Depois do risco que tive, com as plaquetas sanguíneas lá em baixo, causado por um infeliz mosquito, certamente parceiro dos políticos ineptos que temos, fiquei mais de um mês sem encostar as mãos na bicicleta. E com uma prova tão dura pela frente, alguma dívida teria que ser paga no futuro. Mas lentamente voltei aos treinos e fui ganhando confiança e voltando gradativamente ao condicionamento físico.
Viajamos para a França com um grupo de 36 brasileiros, do Rio de Janeiro, Brasília, Goiânia, São Paulo, Campinas, Curitiba, João Pessoa, São Luiz e Vitória. E logo no primeiro dia parecíamos amigos há muito, pois o ambiente descontraído foi a tônica durante todo o período, favorecido pelo lindo lugar que ficamos, um aconchegante hotel em Argelez-Gazost, uma pequena cidade aos pés dos Pirineus. Nos dias iniciais continuamos nossas pedaladas pelas estradas do sul da França, conhecendo lindos lugares, sempre espantados com a deferência com que os motoristas nos dispensam.
Dois dias antes da prova (sexta-feira) voltamos a Pau para retirar os kits do atleta, debaixo do sol forte, anunciando o que é contumaz no L’Etape du Tour: calor extremo do verão francês, que sempre causa muitas desistências e muitos atendimentos nos postos médicos. Mas nós acreditávamos que o treinamento tinha sido correto, já que sempre treinávamos sempre que possível na hora mais quente dos dias no nosso fraco inverno. Portanto, segundo nossa avaliação, estávamos preparados para a sauna francesa, até porque calor no Rio de Janeiro não é novidade.
Porém, no dia seguinte, véspera da prova, uma frente fria fez a temperatura despencar e a chuva fina constante era o prenuncio que tudo seria bem molhado. E foi exatamente sob chuva, mas forte, e frio que acordamos às 4 da manhã para nos juntarmos aos outros 9000 ciclistas que, por mais de uma hora esperou pacientemente debaixo da mesma chuva, soar o sinal de largada, às 7 horas da manhã.
Os primeiros 70 km foram de muita água. Ela vinha de cima intensamente e de baixo, levantada pelos 18000 pneus. Eu e o Orlando combinamos de fazer a prova juntos, apesar de ele ser mais rápido do que eu, pois por ser uma prova com duração estimada de 10 horas, ter companhia é muito bom. Íamos trocando de pelotão em pelotão, mantendo uma boa média horária. Mas fui surpreendido por um furo no meu pneu dianteiro, mais ou menos no km 60. Fiquei extremamente irritado, já que havia feito investimento num pneu (caro) sem câmara e mais resistente a furos. Devido ao frio, fiquei todo enrolado para realizar o conserto que, somado ao fato de ver uma multidão de ciclistas nos passando, minha irritação quase se transforma num “piti”. E aí foi fundamental a ajuda do Orlando, que acabou fazendo o reparo no pneu. Mas perdemos muito, muito tempo mesmo.
Chegamos então na base no Toumalet encharcados e preocupados com a tempo de corte, já que quase no topo da montanha, teria uma cancela pronta para barrar quem não estivesse dentro do tempo máximo. O jeito era apertar o ritmo, que ia ficando cada vez mais duro e cada vez mais frio. Perto do cume, a visão de alguns atletas sendo atendidos com hipotermia, a chuva fina, o frio, a falta total de paisagem causado pelo denso nevoeiro, o cansaço e, no meu caso, a dívida que eu tinha contraído por causa da dengue hemorrágica, foram decisivos em me esgotar as forças. Parei!
O Orlando quando se viu sozinho, voltou a minha procura e queria diminuir o ritmo para continuar comigo. Mas fui incisivo que se assim ele o fizesse, eu pararia em definitivo. E aí os dois seriam cortados. Portanto, o convenci de continuar.
Descansei um pouco e voltei a pedalar. Cheguei no topo dos 2115 m do Tourmalet, com a temperatura em torno dos 2 C e passei pela cancela ainda no tempo. Comecei a descida fatigado e sentindo muito frio. Como não conseguia acionar os freios corretamente por causa da mão quase congelada para controlar o dowhill de 30 km, parei mais uma vez tentando me aquecer. Nessa decidi:
- chega! Vou descer bem devagar e me dirigir ao hotel para um banho bem quente.
Porém, à medida que ia descendo a montanha, a temperatura ia subindo e por causa da ausência da chuva naquele momento, a sensação térmica de frio diminuiu significativamente, revogando minha decisão de parar. Voltei a pedalar forte. Cheguei na base do Tourmalet e entrei num pequeno pelotão para me ajudar a vencer os 5 km que nos separavam da base dos 15 quilômetros de subida para o Hautacam.
Mas entre a minha determinação em prosseguir e a subida da montanha havia outra cancela, agora fechada pelo tempo limite que me impediu de subir. Não posso dizer que foi uma grande frustação, pois o banho de banheira quente no meu hotel, não muito longe dali estava delicioso e reparador.
O Orlando chegou ao final e depois desceu (quase congelado) triunfante o Hautacam. O que ocorreu também com os outros brasileiros. Porém além de mim, três outros patrícios não conseguiram concluir e foram vencidos pelo Tourmalet, sendo que a única mulher, Alessandra, foi vencida pelo frio quase no topo da montanha.
No dia seguinte, com todo mundo já descansado e limpo, fui convidado a comparecer no quarto de hotel do Cleber Anderson e o Pedro Pires. Fizeram uma “solenidade” e me entregaram a medalha de finisher, já que venci a montanha mais alta. Claro que a guardo com carinho e até hoje não sei se um deles abdicou da sua medalha ou se conseguiram uma reserva. O importante é que está bem visível no meu escritório, me fazendo lembrar deles, da turma, da viagem e que ainda preciso buscar eu mesmo uma igual.


* * *

A ida para uma prova como esta não é um programa barato, pois o investimento com a passagem aérea, o hotel, alimentação e a própria inscrição promovem uma erosão considerável nas nossas reservas. Mas não há dúvida que o desafio é atraente e vale à pena. Ainda mais se somarmos o fato de sempre pedalarmos por lugares muito bonitos nos dias que precedem a prova como parte do treinamento final e adaptação ao fuso horário e também pela possibilidade e assistir etapas do Tour de France com os profissionais (geralmente incluídos no pacote turístico) e, junto com milhares de aficionados, ciclistas ou não, fazer parte da história do ciclismo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Caminho de Santiago






Caminho de Santiago (Caminho Francês)

A internet está recheada de relatos e dicas sobre o Caminho de Santiago, tanto para caminhantes quanto para quem pretende ir de bicicleta. Portanto, não há muito mais o que dizer sobre ele e por isso vou me ater a detalhes que julgo importantes para que se consiga pedalar pelo Caminho sem problemas, já que o fiz, em companhia do meu filho Marcelo, em julho de 2007.
O Caminho de Santiago, além da natureza religiosa ou mística, é lindo, super sinalizado, passa por cidades medievais super bem preservadas e mesmo naquelas que cresceram, guardam a parte antiga com muito carinho e é exatamente por onde são cortadas pelo Caminho.
Ganhamos então um banho de história e de respeito ao ciclista. Portanto, considero que deve ser sempre colocado nos planos de quem gosta de pedalar. Logicamente a travessia de lugares tão antigos, com tanta história, onde ouvimos inúmeros relatos de superação e fé, evidentemente promove uma introspecção mesmo nos mais incrédulos. Mas também erra quem pensa que se trata de uma peregrinação pura e simples, pois até na missa do peregrino (todos os dias ao meio-dia), que lota desde cedo a Catedral de Santiago de Compostela, vemos as máquinas fotográficas a todo vapor, principalmente no ritual em que o “Fumeiro” é movimentado na nave central e voa sobre as cabeças dos fiéis soltando a fumaça típica com um cheiro muito gostoso.
Erra também quem pensa que vai realizar apenas um passeio de bicicleta ou que busca tão somente a prática esportiva, pois não há como se encantar e se inebriar com tanta história.
A primeira coisa a fazer após a decisão de realizar o Caminho é visitar o site da Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago – AACS Brasil (www.caminhodesantiago.org.br) . Lá se encontra tudo. Mas tudo mesmo! E ainda tem a oportunidade de conhecer um monte de gente interessante, que já fez o Caminho (alguns muitas vezes) e nos fornece dicas importantíssimas. Lá também obtemos informações como conseguir a “Credencial do Peregrino”, que é nosso passaporte para todos os abrigos.
Se ainda ficar alguma dúvida, seguem algumas dicas:
- pense bem na companhia que vai ter ao lado. Depois de alguns dias o cansaço, a falta de conforto e a distância podem tornar qualquer relacionamento difícil, onde pequenos conflitos podem se tornar grandes problemas. Se não for uma pessoa de muita intimidade, melhor ir sozinho. Aliás, só nunca estaremos, pois encontramos com muita, mas muita gente no Caminho, das mais variadas nacionalidades. Dessa forma, estar acompanhado não deixa de nos privar de conhecer outras pessoas (grupos grandes então nem pensar, pois os conflitos aparecem muito rapidamente).
- no inverno no Brasil (verão na Espanha) a diferença de fuso horário pode chegar a 5 horas. Portanto, sugiro pelo menos 2 dias para aclimatação, já que a movimentação no abrigo começa bem cedo (mais ou menos 5 da manhã - isso quer dizer acordar a meia-noite no nosso relógio biológico).
- Existem muitos abrigos durante todo o trajeto. E a maioria só aceita ciclistas depois das 3 da tarde, já que temos maior mobilidade. Se algum estiver completo, consultar o mapa e procurar o próximo. Mas sugiro não decidir procurar abrigo quando o cansaço já estiver extremo, pois pedalar mais 5 ou 10 km nessas condições pode ser um martírio.
- quanto à bicicleta, sugiro que seja a nossa mesmo, pois é ela que está adaptada a nós e, por conseguinte, a ela estamos adaptados. O aluguel de bicicletas não considero uma boa idéia, pois as que vi, não tinham aspecto de suportar distância tão grande e pedalar dias seguidos num equipamento ao qual não estamos adaptados pode se transformar em algo muito ruim. Levamos nossa “amiga” numa mala bike (não rígida) e na cidade que escolhemos para iniciar o Caminho, podemos comprar papel pardo e fita adesiva, fazemos um pacote e despachamos o embrulho contendo a mala pelo correio para nós mesmos em Santiago de Compostela. Algumas companhias aéreas cobram 100 dólares para levar a magrela. Ah, mochila, nem pensar!!! Temos que ter alforjes.
- Na preparação para a viagem, quando achar que está levando pouca coisa nos alforjes, retire a metade. Usamos muito pouca coisa durante o Caminho!! – pouquíssimas roupas, a menor quantidade possível de itens de higiene pessoal, a toalha pode ser uma fralda de pano (que pode ir secando no caminho enquanto pedalamos), um pouco de sabão em pó para lavar as roupas (sempre tem lugar para lavá-las nos abrigos), bastante bloqueador solar, a menor máquina fotográfica possível, uma generosa quantidade de itens para reparos de emergência para a bicicleta e para os pneus e sempre deixar um espaço para levar alimentos não perecíveis para comer nas pausas para descanso. E água, é claro.
- Mesmo no verão, quando são observadas temperaturas bem altas, as duas maiores montanhas que temos de vencer (Rabanal Del Camino e O Cebreiro) podem apresentar temperaturas baixas. Portanto, os alforjes devem conter alguns casacos leves e corta-vento. E nem pensar em fazer o caminho próximo ao inverno europeu.
O Caminho começa em Saint Jean Pied de Port no sul da França. Recomendo ir de avião até Pau – França e de lá seguir de trem até Saint Jean Pied de Port e voltar desde Santiago de Compostela.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Rio de Janeiro a Aparecida






Rio de Janeiro à Aparecida
7 de novembro de 2009



Além da distância desafiadora, pedalar até a cidade de Aparecida tem uma conotação simbólica, pois vemos no destino uma construção monumental, imponente e que atrai milhões de pessoas durante todos os anos, pois é o Santuário da Padroeira do Brasil. Se ainda tivermos a crença religiosa, mesmo que não fervorosa, no final da pedalada poderemos pedir graças à Nossa Senhora da Aparecida e ainda acender uma vela do nosso tamanho no tradicional candelabro coletivo.
Certamente é possível pedalar sozinho, mas com companhia, ainda mais com boas companhias, fica muito mais aprazível e mais seguro, já que qualquer problema é sempre dividido pelo grupo. Assim, convidei alguns amigos e acabou se formando um grupo de quatro ciclistas. Um possível problema já de inicio era a idade dos "meninos" – Fábio Pinaud com 36 anos, Roberto Tadao (Dum) com 31 e Diogo Carvalho (Mineiro) com 30 anos. Isso sem contar no fato de serem os três triatletas. Mas eles sabiam da responsabilidade de não deixar o "velho" para trás.
O dia "D" da cicloviagem foi sendo adiado por motivos profissionais até que se estabeleceu o dia 7 de novembro de 2009. E o planejamento inicial era fazer o percurso em duas etapas: a primeira até Penedo e, no dia seguinte, seguir até Aparecida.
Em função da segurança, não devemos começar exatamente no município de Rio de Janeiro, pois isso envolveria pedalar em vias expressas, com denso tráfego de veículos leves e pesados e de não contarmos com acostamento. Por isso combinamos para iniciar pouco depois da entrada principal de Nova Iguaçu, município vizinho, pois a partir dali já poderíamos contar com o acostamento da Rodovia Presidente Dutra e a quantidade de entradas e saídas da estrada ser em número menor, diminuindo a possibilidade de conflito com veículos. Além disso, o posto de gasolina que escolhemos tem uma boa área disponível para deixarmos o carro pernoitar, caso seja necessário. O posto em questão é um Shell, exatamente antes do estacionamento do Supermercado Makro (placa publicitária bem visível) a 13 km da saída da Linha Vermelha (km 181,5 da Dutra). Este será o nosso marco ZERO daqui pra frente.
Dois dias antes surgiu uma prova de fogo, quase literalmente: uma forte onde de calor começou a dominar o Estado do Rio, produzindo temperaturas acima dos 35º C, sempre com o sol brilhando inclemente, quase sem nuvens. Pensei em solicitar o adiamento da jornada, mas quando toquei no assunto não deram à mínima. Então como poderia o idealizador do passeio desistir?
Acordei às 4:30 hs e peguei minha carona pré-agendada com meu cunhado. Com alguns pequenos atrasos, o pedal propriamente dito começou às 06:40 hs, após aplicarmos uma generosa camada de bloqueador solar. O dia já estava claro, apesar do horário de verão e a ausência total de nuvens anunciava que o dia seria lindo, mas o "astro-rei" iria nos acompanhar bem de perto, o tempo todo. (altitude = 35m)


Ainda no primeiro quilômetro Dum soltou a primeira pérola:
- Aí galera, o que vocês acham da gente ir direto para Aparecida?
Cheguei a engolir em seco com a proposta, mas qualquer ponderação maior que eu fizesse, certamente eu seria sacaneado com coisas do tipo:
- qualé Velho, quer moleza, senta num pudim!!!
Mas mesmo assim falei que me reservaria o direito de dizer que o cansaço chegou, obrigando todos a parar.
Os primeiros quilômetros foram deliciosos. Como a orientação da Dutra é Leste-Oeste, tínhamos o sol ainda baixo às costas, projetando nossas sombras enormes à frente, duplicando a quantidade de ciclistas, já que quase sempre pedalávamos em duplas, revezando o pessoal da frente para permitir algum descanso no vácuo atrás (exceto eu, que fui até o final no vácuo). Além do mais, a temperatura estava muito agradável e o relevo quase perfeitamente plano.


Assim passamos pelas entradas de Queimados, Austin, Miguel Pereira e Seropédica, que pouco depois vem a primeira praça do pedágio (com um lugar especialmente deixado para a passagem de bicicletas). Logo depois a primeira subida, porém curta, que nos leva a 114 m de altitude (km 27,5) e depois nos brinda com uma longa e leve descida e mais uma parte plana, já quase sem habitações na margem, aumentando muito o prazer da pedalada.
Chegamos ao inicio da subida da Serra das Araras (altitude = 74 m – km 39,5) já com o sol um pouco mais forte e, consequentemente, com a temperatura em elevação. Mas durante a subida, devido ao relevo que escondia muito o sol ainda não muito alto, havia extensas áreas sombreadas, tornando a subida de 6,8 km, com inclinação média de 5,6% bem agradável. Um detalhe importante: há muitas bicas rústicas de água potável e geladinha na serra. Logicamente parei para o primeiro banho e aproveitei para reencher as caramanholas, que já estavam vazias.
No final da serra (altitude = 461 m) há uma lanchonete onde fizemos a primeira parada onde comemos pão de queijo e muita coca-cola estupidamente gelada.

Daí em diante um longo trecho plano ou com descidas e subidas leves. Região muito bonita, pois passamos bom tempo às margens da represa da Light. O sol ficava cada vez mais alto e a temperatura em elevação, mas temos que admitir que, apesar do calor enorme, a sensação térmica não era tão intensa por causa do vento produzido pela pedalada. Além do mais, estávamos propositadamente com roupas brancas, que ajuda a refletir o luz solar.
Problema mesmo era quando vinha uma subida um pouco mais longa, que diminuía muito a velocidade e nos fazia sentir como estava calor. Exatamente o que acontece pouco depois de Piraí (km 58,1) onde encontramos uma subida com 2,7 km de extensão e que começa aos 420 m e acaba aos 534 m de altitude, proporcionando uma inclinação média de 4,2%. Pouco mais adiante, antes da entrada de Volta Redonda (km 73,7), uma outra subida de 2,3 km, com 5,1% de inclinação (começa aos 401 m de altitude com 519 m no final). Que calor!!!!
Nessas subidas, que se repete em todas outras subidas maiores da rodovia, o acostamento dá lugar à terceira pista de rolamento, o que demanda maior atenção. Porém, os caminhões que ficam na direita são muito lentos, não comprometendo a segurança. Além do mais, são quase na sua totalidade gentis e se afastam para o centro.
Depois da entrada para Volta Redonda a característica do relevo não muda, nos permitindo uma velocidade média de mais de 25 km/h, fazendo a quilometragem do Cateye evoluir bastante. Após a entrada para Barra Mansa, o relevo também não muda. O que muda é o visual, pois ficamos um bom tempo com o Rio Paraíba do Sul bem lá em baixo, à direita, deixando a paisagem muito legal.
Demos uma pequena parada num posto da Policia Rodoviária Federal a procura de água e fomos bem recebidos. Caramanholas reenchidas continuamos até Resende, onde paramos na Lanchonete Olá, local da nossa primeira grande pausa.

Até aí tínhamos percorrido 116 km, pouco mais de 4 horas de pedal, sendo quase 5 horas no total, incluindo as paradas. Fizemos um bom lanche, muito líquido (Gatorade, Coca-Cola e Água) e antes de voltarmos para a estrada, tomamos banho na mangueira do posto de gasolina ao lado de forma que estávamos ensopados quando subimos nas bicicletas.
Aliás, esta prática foi repetida muitas vezes, pois era o período de sol escaldante. E pedalar com o corpo ensopado diminuía tremendamente a sensação térmica de calor. Mas era incrível como toda aquela água se evaporava rápido.
Cabe ressaltar que apenas 3 km adiante, quase na entrada principal de Resende, tem o Posto Embaixador, com lanchonete e restaurante refrigerados, enquanto o que paramos era mais simples. Porém, nossa aparência causada pelo suor excessivo, combinava melhor com algo mais simples. Além do mais, como as janelas da nossa lanchonete ficavam abertas, nossas bicicletas ficaram bem debaixo dos nossos olhares.
Estávamos cansados? Claro que sim. Mas o longo descanso nos deu ânimo novo. Por isso resolvi seguir viagem. Passamos pela entrada de Penedo (km 129,5), logo depois por Itatiaia, onde fica a segunda praça de pedágio e após mais uns 20 km, a fronteira dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo foi alcançada (km 152,3), com mais uma parada rápida para fotos das placas de sinalização.


Ao recomeçarmos a pedalada, ninguém conseguia esconder o cansaço. A essa altura, eu já tinha decidido que ia parar em Queluz, cerca de 8 km adiante. O sol estava causticante e o prazer do pedal caindo vertiginosamente. Mas pensei com meus botões, ou melhor, com minha bicicleta, que ia comunicá-los, de maneira irrevogável, pouco antes da entrada da cidade. O engraçado foi descobrirmos já em Aparecida, que todos estavam com sentimentos semelhantes, só que ninguém falava. Mas era notório porque pouco se conversava naquele momento. Porém, uma coisa mudou radicalmente os planos secretos de todos. Passamos pouco depois por uma placa gigantesca escrito: Aparecida – 71 km.

Foi um alvoroço. Todos diziam: - poxa, 71 km é menos do que qualquer treininho que a gente faz!!!! E o resultado, após todos escancararem seus cansaços, foi a decisão de ir em frente.
Ledo engano, pois foram os 71 km mais longos das nossas vidas. Primeiro porque logo após a entrada de Lavrinhas (km 174,2), tem uma subida que nos pareceu maior do que os 2,7 km de sua extensão, com 5% de inclinação (507 m a 642 m de altitude), realizada sob sol inclemente e uma sensação térmica absolutamente terrível. Fazemos uma descida nos levando de volta aos 552 m de altitude, depois um curtíssimo trecho plano e logo vem a outra subida (km 180,8) com 2,4 km e com os mesmos 5% de inclinação, terminando com 673 m de altitude. Esta, no entanto, foi executada sem o sol, já que uma nuvem salvadora resolveu dar o ar da graça.
Alguns fatos nos ajudaram: tivemos 4 paradas para troca de câmara de ar. Como é bom alguém furar pneu nessas horas. O problema é encontrar forças para colocar as 100 lbs necessárias de volta nos pneus.
Fizemos também mais duas paradas para banho de mangueira, sendo que num desses postos de gasolina, especializado em caminhões, havia um tonel refrigerado de água potável. Isso foi uma das coisas mais gostosas de toda a viagem, pois cada um derramou no seu corpo muito mais do que 10 caramanholas de água gelada.


Após essas duas subidas, já no município de Cachoeira Paulista, o relevo ficou como antes: longos trechos planos com leves subidas e descidas. Estávamos já em contagem regressiva para chegar. Apenas uma coisa nos dava ansiedade: a informação da quilometragem fornecida pelas placas de sinalização ou a dada por um funcionário da concessionária sobre o quanto faltava para o nosso destino. A diferença era de 5 km, sendo que no inicio, por uma reação humana, resolvemos acreditar na menor, dada pelo funcionário. Por incrível que pareça 5 km naquele momento fazia uma enorme diferença.
Quando faltavam 30 km, fomos alcançados pela minha esposa que, de carro, veio nos dar apoio, já que iríamos pernoitar em Aparecida e seria a condução de volta das bravas bicicletas. Ela parou num lugar seguro alguns metros adiante e abriu a janela para nos falarmos. Eu coloquei a cabeça dentro do carro para um beijo de saudação e aquele ar gelado do ar condicionado foi bastante convidativo. Mas claro que eu ia prosseguir!
Pouco depois veio a cidade de Guaratinguetá. Aí já era praticamente a reta final. Alguns poucos quilômetros adiante, 221,3 km, 8:51 hs de pedal e 11:23 hs de tempo total depois, chegamos à entrada de Aparecida (575 m de altitude). Uma sensação muito boa tomou conta de todos e comemoramos o feito diante de placa de sinalização na entrada da cidade.

A noite, um jantar de confraternização e o descanso merecido para que no dia seguinte pudéssemos visitar a Basílica e acender a vela com o nosso tamanho.

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Cabe ressaltar que Aparecida, apesar de receber uma quantidade enorme de turistas, romeiros e visitantes, não possui uma boa rede hoteleira. São muitos hotéis, mas são muito simples e mesmo assim, dependendo da época do ano, difícil de conseguir acomodação. Ficamos em dois quartos. Um sem ar condicionado. O outro com o aparelho, mas que só fazia barulho e refrigerava muito pouco. E como o calor estava intenso, fez uma falta danada.
Recomendo esta viagem a todo mundo que gosta de pedalar. Porém, creio que melhor conduta é ir até Penedo, mais ou menos metade do caminho, que tem uma rede hoteleira excelente e lá pernoitar, fazendo a segunda etapa no dia seguinte. Isso tem a vantagem de permitir a ida de familiares, namoradas (os), esposas, maridos, etc. O pedal até Penedo não é tão grande, sendo que a chegada lá se daria por volta da uma da tarde. Aí viria banho, descanso, uma social pela pequena e muito aprazível cidade (distrito de Resende), um jantar em ótimos restaurantes (o que também não se vê em Aparecida) e um bom descanso para a segunda pernada no dia seguinte até Aparecida. Outro detalhe importante é que sem o horário de verão, dificilmente chegaríamos ao destino ainda com luz natural.
As condições do piso do acostamento são quase na sua totalidade excelentes (com raríssimas exceções) para o uso de qualquer tipo de bicicleta, por isso melhor escolher as de estrada, por serem mais leves. São, no entanto, repletos de pequenos detritos, tais como pedriscos e restos de pneu, causados e deixados pela movimentação dos veículos, sendo que muitos infelizmente jogados como lixo pelos próprios usuários da estrada numa demonstração terrível de falta de educação. Dessa maneira, devemos estar sempre atentos e com os ciclistas da frente sinalizando para os de trás. O maior problema é a presença de cacos de vidros de antigos acidentes, que foram a causa de pelo menos dois furos de pneu.
Importante também salientar que, apesar da Rodovia Presidente Dutra possuir acostamentos largos, o mesmo não acontece na maioria das pontes do caminho, denunciando sua construção antiga. Por isso, todo cuidado é pouco ao passar por elas, ainda mais se estiver vindo uma carreta. E se vierem duas carretas, é melhor parar porque não vai haver lugar para a bicicleta.
Outro fator digno de nota ainda com relação às carretas é que quando estão em velocidade, o deslocamento do ar que provocam é muito grande, o que pode representar perigo. Portanto, quando o trecho da estrada for plano ou em declive, melhor ficar o mais longe possível da pista de rodagem.
Como não estava totalmente certo que teríamos o carro de apoio no final da viagem, fomos com uma pequena mochila nas costas levando o mínimo possível para permitir a troca de roupa, itens de higiene pessoal, documentos e alguma alimentação. A opção de fazer em duas etapas, com apoio de algum carro, torna a mochila desnecessária, pois ela pesa algumas toneladas no final.
O saldo final foi amplamente positivo e como disse o Fábio, poderemos contar muitas histórias aos netos no futuro, mas serão coisas verdadeiras.
Certamente repetirei a viagem.